sábado, 31 de outubro de 2015

Dez meses de estagnação

Amanhã se completam dez meses do segundo governo de Dilma Rousseff. São mais de 300 dias de pura letargia, em um ambiente nacional assombrosamente infrutífero. Parece que a criatividade e até a “ginga” dos brasileiros na hora de resolver problemas se foram. Não há quem consiga passar um dia sem falar de uma crise que devasta empregos, reduz produção e recria a instabilidade que, desde o Plano Real, não se via por aqui.

O governo não reage, e, talvez por isso, o setor produtivo se afunda. A desesperança cresce. As substituições de ministros não estão servindo para nada. Tecnicamente, elas foram trágicas; politicamente, amorfas. Dilma fica entre a cruz e a espada, entre Cunha e seu criador, Lula; entre exercer a Presidência e a sobrever na política, entre assumir riscos e se render a chantagens.

Lula, acuado pelas denúncias que batem a sua porta e envolvem, com mais exatidão, os seus filhos, faz discursos para petistas desolados. Fala de perseguição das elites, mas se esquece, ou faz questão de se esquecer, de que são ex-aliados que o colocam contra a parede. Seu discurso não tem chegado às massas, pois a defesa que faz está comprometida por evidências.

Poderá falar que nada tem a ver com a vida pessoal e financeira de parentes. Dirá novamente que nada sabia? Sim, é provável. Mas, desta vez, não se descolará de um amigo, como fez com José Dirceu, mas de seus filhos. Também se mostra confuso: ora parte para o ataque, ora recua em relação ao governo. A impressão é que a história não se repetirá.

O encanto acabou? Ainda não se sabe, mas o poderoso criador do PT está se reduzindo a um político isolado e até malquisto. A comemoração de seu aniversário mostrou um pouco dessa insolvência, sustentando-se em invenções abestalhadas, como #Lula70. Antigos e importantes “companheiros” não estavam lá. Pior: estão agora nas fileiras daqueles que querem ver o seu fim.

Assim como Dilma, Lula está entre a cruz e a espada, entre Cunha e seu criatura; entre ser um ex-presidente e se manter na batalha, correndo o risco de ver seu legado ser arrasado, não por Dilma, como deu a entender, mas por sua própria postura de deixar um rastro que levará a polícia e a Justiça ao seu calcanhar.

A 60 dias do fim deste ano, presidente e ex-presidente estão no mesmo barco, mas não sabem que direção eles darão a ele. É difícil imaginar um impeachment ainda em 2015, mas ele se torna mais realizável para os meados do ano que vem. O PMDB está com a bocarra escancarada.

Porém, ainda há saída mais honrosa: Dilma faz pacto direto com a nação, negocia a sua saída diretamente com os brasileiros e condiciona sua retirada à aprovação, no Congresso, de ampla e profunda reforma pela qual o país tanto clama.

Nenhum comentário:

Postar um comentário