Seja aumento de impostos ou contenção de despesas, linhas ideológicas que votam contra em Brasília votam a favor no Rio Grande do Sul, e vice-versa, porque identificam na presidente ou no governador um adversário a ser destruído, desmoralizado, arrasado sem piedade, mesmo que o desejo de sangue político leve a economia e o povo de roldão. Coerência zero. Com saudáveis exceções, os parlamentares desfilam para as arquibancadas neste Carnaval do populismo, distantes da maioria silenciosa que alimenta o rancor em casa e volta e meia o destampa em grandes manifestações.
Em democracias maduras, o parlamento fiscaliza e obstrui os gastos públicos. Cada proposta de despesa é esquadrinhada em comissões e espremida até ser derrubada ou finalmente seguir em frente. Os eleitores desses países valorizam quem defende seus impostos com ardor e rejeitam vendedores da ilusão de que dinheiro público jorra de uma fonte mágica. Em suma, em ambientes de responsabilidade fiscal, o Executivo tenta executar novos programas e gastar mais, enquanto os parlamentares se esforçam em travar desperdícios.
Por aqui, nem uma coisa, nem outra. Só agora, depois de exaurir as burras estatais em farras de reajustes, benesses e juros de dívidas contraídas para pagar os reajustes, as benesses e mais dívidas, os governos federal e estaduais estão começando a acordar para a realidade do aqui se faz, aqui se paga. O porre de hoje é a ressaca de amanhã, mas os parlamentos ainda vivem embriagados pela noção de que perderão eleitorado se disserem não aos excessos. O resultado é que a classe política toda, com levianos e responsáveis misturados, acaba como alvo do rancor generalizado. Mas é preciso abrir o olho antes que seja tarde: os que aplaudem agora o extermínio de governos pela via da bancarrota não se levantarão depois para defender os parlamentos irresponsáveis.
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