terça-feira, 14 de julho de 2015

E aí, cara?

O telefone toca, e é a voz do velho amigo que não vê há tempo.

– E aí, cara, sabe porque estou te ligando?

– Fiquei te devendo alguma coisa?

– Uma visita e uns dez abraços.

– Como assim?!

– É que você, na última vez que nos vimos, falou que ia me fazer uma visita e…

– Pois é, cara, mas sabe como é a vida…

– É por isso que estou te ligando. Pra gente se ver, em vez de ficar trocando abraço por email. Vamos abraçar ao vivo, em vez de só em velório de amigos.

– É verdade, vamos nos encontrar sem falta esta semana. Você ainda vai ao Bar do Tomio?

– Não, pra você não me encontrar no meu velório. O médico falou que, se eu continuasse com fritura e cerveja, podia encomendar jazigo.

– E eu só estou bebendo vinho tinto, uma taça no almoço, outra na janta.

– Eu deixo de tomar a do almoço pra tomar duas no jantar.

– Puxa, como não pensei nisso? A do almoço me dá um soninho bobo de tarde…

– E tomando duas na janta, cara, dá pra engolir melhor o noticiário. Só falta roubarem asilo, né?

– Por falar nisso, e tuas ações da Petrobrás?

– Não fala nisso, o médico falou que pode me dar úlcera. Mas lembro toda vez que abasteço o carro. Se arrependimento matasse…

– Nem mata nem faz bem. Toda vez que penso em quem votei me faz mal, e de que adianta?

– E o pior, cara, é que não adiantaria ter votado em outro. Desconfio que esse sistema que está aí é como carro tão sucateado que não aceita mais reforma.

– Vamos fazer o que? Vender o Brasil pro ferro-velho?

– Ou refundir, né. Assembleia nacional reconstituinte!

– Mas já tivemos quantas?

– Só que agora, formada apenas por gente que nunca tenha participado desses partidos que estão aí. Senão vai ser de novo confiar nas raposas pra reformar o galinheiro.

– Ih, o nenê acordou, é um netinho que está dormindo aqui. Então…

– A gente se vê!

– É, até!

A mulher chega quando ele está trocando fralda do nenê.

– Oi, meu bem, você estava falando com quem?

– Com um amigo sonhador.

– E ele sonha com que?

– Com refundir o Brasil. Já é tão difícil limpar um nenê, imagina limpar o Brasil!

– Mas, meu bem, já pensou se a gente não limpasse o nenê?

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