Desconheço a origem da necessidade que têm os homens de buscar amparo na imagem de heróis, salvadores da pátria e defensores da moral. Apenas reconheço - e me entristeço, ao saber que inclusive eu mesmo sou afetado - que, atualmente, essa carência só vem se expandindo, mais e mais.
No futebol, o fenômeno que ficou conhecido por "neydependência" nos deixa frustrados ao saber que, sem Neymar, nossa seleção não ganha sequer do Paraguai.
Na política, no entanto, temos hoje um cenário muito mais alarmante. Trata-se de uma "Cunha dependência", "PSDB dependência", ou, até mesmo, "Moro dependência".
Cansados de tanta corrupção, esperamos ansiosamente, dia após dia, que criminosos delatem outros criminosos, que a Polícia Federal encontre novas provas, que o TCU recomende a reprovação das contas da Presidente, que o Congresso Nacional reprove estas contas, que Eduardo Cunha coloque em votação o impeachment de Dilma Rousseff... Enfim, que tudo ocorra para que possamos dispor de todos os meios e de toda materialidade para dar um basta em tudo que há de errado.
Mas e quando nossos ídolos saem da linha e se tornam iguais - ou piores - que nossos algozes?
A delação de Júlio Camargo, que afirmou que Eduardo Cunha exigiu 5 milhões de propina, é apenas um exemplo de tantos dilemas que o brasileiro de bem, cansado de tanta corrupção, precisa enfrentar ao depender de políticos.
O petista histórico, que se emocionava com o trabalho político de Lula antes de 2002, também deve sentir esse dilema ao ver seu partido afundado nos maiores escândalos de corrupção da história.
No final das contas, grande parte do que vemos na política brasileira não passa de teatro. Com oportunismo, jogam para a plateia - isto é, nós, brasileiros comuns, sem foro privilegiado. Tornarmo-nos defensores cegos e hipócritas, ou céticos acomodados, descrentes num futuro melhor? Eis a questão.
A verdade é que o povo, aos poucos, amadurece.
Minha resposta a tudo isso, portanto, não poderia ser diferente: continuarei lutando não por políticos, mas por ideias que transcendem carne e ossos, defendendo um ideal de justiça de um Estado verdadeiramente de Direito, que se aplique não só a meus adversários, mas a meus aliados e a mim mesmo. Erga omnes.
Julio Lins ("Vem Pra Rua")
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