terça-feira, 2 de junho de 2015

Sobre a quase reforma

Em obras

As propostas de reforma política, que levaram mais de 20 anos para serem colocadas em discussão, mostraram mais uma vez que grande parte dos congressistas é totalmente dispensável. Horas e horas de discussões que terminaram em quase nada só reafirmaram a condição de letargia dos parlamentares.

Pode-se atribuir às insanidades de Eduardo Cunha o fracasso dessa reforma política, mas, encerradas as tentativas de mudar a forma de eleger políticos no Brasil, é hora de indagar se uma transformação desta é realmente o que o Brasil precisa.

De que adiantaria restringir financiamentos privados se o caixa 2 continuaria existindo? Do que adiantaria unificar eleições se os eleitos continuariam sendo os mesmos?

A derrota do distritão e do distrital misto mantém o que esta aí, mas o que está estabelecido do ponto de vista eleitoral não é o pior que o Brasil apresenta.

Dos males, o menor. Sem a impunidade, talvez esse mesmo sistema, com pequenas alterações, configurasse entre os melhores do mundo.

Outras reformas, sim, são cruciais para o funcionamento deste país. Talvez a salvação para uma economia em frangalhos e uma crise que não é só financeira, mas, sobretudo, estrutural.

Uma mudança na forma de arrecadar impostos e tributos, privilegiando a produção em detrimento de setores especulativos, que só arruinam a economia, sim, faria a diferença que todos nós precisamos e sonhamos.

Também haveria de se aspirar um reforma jurídica, não aquela que discute apenas a diminuição da maioridade penal, mas uma que também seja capaz de trazer maior equilíbrio entre cidadãos.
Antes de pensarmos em reforma política, seria preciso ter políticos.

Pessoas públicas concentradas, minimamente honestas e preocupadas um pouco mais com a vida que acontece nas ruas, resistentes a este mundo de maravilhas, estratagemas e pilantragens de gabinetes e salões ovais.

Entre heróis que trabalham e geram as riquezas deste país e sanguessugas que se alojam na política e no sistema financeiro brasileiro há um abismo quase intransponível.

Se não se inverterem os papéis desse teatro de horrores, qualquer mudança eleitoral será mera fantasia. Por esse prisma, a derrota da reforma política nesta semana não é bem uma derrota do cidadão. Dependendo do que seria aprovado, o que tivemos pode até ser encarado como vitória.

A nossa verdadeira derrota está no dia a dia e na expiação pela qual passamos aos sermos diuturnamente bombardeados com a manutenção de dois tipos de gente no país: o que produz e o que se farta dessa produção, sem pensar na fome dos empobrecidos.

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