terça-feira, 23 de junho de 2015

Marcha a ré para 2022

Por que se preocupar com educação se temos o maior número de celulares por pessoa?

Será que é realmente ao Brasil que a presidente Dilma se refere quando fala em “Pátria educadora”? Vivo pensando nisso, nas noites em que desperto de um sonho que teima em se repetir e no qual, orgulhosos, ultrapassávamos a Finlândia em educação! Acordar entristece, porque a realidade me faz perceber que esse sonho é quase utopia: continuamos entre os últimos dentre os 68 países classificados pela OCDE, entidade que coordena a prova internacional trienal (Pisa), que visa a produzir dados para a melhoria do ensino básico no mundo. O que se busca é verificar até que ponto os países participantes estão preparando seus jovens para o exercício da cidadania.

O Brasil, que participa desde a primeira edição, em 2000, vem registrando resultados desoladores nas áreas avaliadas. Estamos lamentavelmente “entre os piores” em Leitura, Matemática e Ciências! Frente ao quadro, me atormento pensando se sou apenas eu que acha estranho a “Pátria educadora” colocar como meta alcançar a média mínima estabelecida pelo OCDE (6,0) em 2022! Essa média é o parâmetro para que um país figure entre as nações desenvolvidas em termos educacionais. Já foi alcançada pela Finlândia, Coreia, Israel e Alemanha, por exemplo. Mas aqui, na “Pátria educadora”, não temos pressa: 2022! Por quê? Simples. É quando completaremos 200 anos de independência! E, se temos uma data tão linda, ainda que distante, para que correr e tentar superar o passado de derrotas?

A impressão que fica é que as autoridades ou não sabem como fazer, ou não estão realmente interessadas em propiciar cidadania de fato. Para que — se figuramos entre os países cuja população se considera das mais felizes do mundo? Se ficamos em 58º lugar entre 68 países em termos de educação, qual o problema? Afinal, somos campeões em coisas mais importantes: o país com o maior número de celulares por habitante e também um dos mais alegres do mundo! Então, para que bem equipar escolas e qualificar docentes?

Em todo caso, temos oito anos para chegar à meta, o que constitui quase todo o tempo de que uma criança necessita para concluir o ensino fundamental. Estaremos condenando ao fracasso mais uma geração de alunos? Temos a meta, mas e o plano para concretizá-la, onde estará? Deprimente constatar que a “Pátria educadora” se proponha a uma meta tão tímida, e ainda assim demonstre não saber como atingi-la! E, se afinal, lá chegarmos em 2022, onde estarão as nações que hoje estão nesse mítico patamar? Muito além. Esse 6,0 significa que o país terá atingido, até lá, um nível médio de proficiência e rendimento. Ainda que atrasados, teríamos progredido, porém.

No entanto, pelo andar da carruagem, indefinidos ainda em relação ao “que fazer” para sair do buraco em que a Educação está, é bem provável que nem lá cheguemos. Essa afirmativa nada tem de derrotismo. É fato: em 2012, o desempenho do Brasil em Leitura piorou! Fizemos 410 pontos, dois a menos que em 2009 — o que significa, pasmem, ficar 86 pontos abaixo da média dos países da OCDE. Resta saber em que direção estamos caminhando realmente...
Tania Zagury 

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