sexta-feira, 29 de maio de 2015

À espera da necessidade

Até que ponto a presidente Dilma e as parcelas dos partidos que a apoiam vão aguentar o tranco de uma política impopular?
Os deputados federais votaram três vezes para manter o sistema eleitoral exatamente como é hoje. Não que todos gostem do modelo. Ao contrário, a maioria não gosta. E tanto isso é verdade que a Câmara dos Deputados apreciou três propostas de mudança. Como nenhuma delas obteve a maioria de 308 votos, necessária para alterar a Constituição, ficou tudo na mesma.

Já as medidas do ajuste fiscal, aquelas que reduzem a despesa do governo e aumentam receitas, vão passando na Câmara e no Senado. Meio aos trancos e barrancos, mas, pelo menos até ontem, estavam passando.

Não que a maioria goste delas. Ao contrário, os que estão votando a favor, parlamentares do PT e do PMDB, por exemplo, fazem isso a contragosto. O governo da presidente Dilma precisa disso, é o que dizem quando perguntados por que sustentam medidas impopulares.

Reparem: eles não dizem que o país precisa ou, mais exatamente, que a economia depende dessas medidas para segurar dívida e déficit públicos e, assim, se reequilibrar. A presidente precisa e, pode-se acrescentar, eles, parlamentares, também. E precisam para se manter no poder.

A lógica: se não for feita nenhuma correção de rumos na política econômica, o governo simplesmente desaba com os números de desemprego, inflação e perda de poder aquisitivo dos salários. Logo, vamos corrigir. Como dizem a presidente e seus aliados, é só uma pequena correção e logo tudo voltará aos bons tempos.

O problema é que o desemprego já está subindo e vai continuar assim, a atormentar a vida das famílias; a inflação já está lá em cima comendo a renda das pessoas; e economia já está parada, ou pior, andando para trás, em recessão.

A presidente e seus aliados dizem que se trata de um sacrifício necessário, mas passageiro. E breve. Por esse lado da história, esses males econômicos são consequência da política de ajuste, de modo que, quanto mais abreviado for o aperto, melhor.

Já o ministro que propôs e conduz esse ajuste pensa bem diferente. Para Joaquim Levy, os males são consequência de um modelo esgotado — aquele baseado no forte aumento do gasto do governo e do crédito concedido pelo setor público.

Logo, por este lado, quanto mais profundo e mais duro for o ajuste, mais rapidamente se sairá do buraco. E, saindo, será preciso construir um novo modelo, baseado no investimento privado e nos ganhos de produtividade geral, pois o dinheiro (público) acabou.

Temos, portanto, duas versões para o mesmo fato. Na versão Dilma, o ajuste causa males, mas é o caminho para se voltar ao modelo dos seus primeiros quatro anos. Na versão Levy, foi justamente esse modelo que fracassou, gerou esses problemas todos e só pode ser superado com o ajuste, “para limpar o convés”, como disse para Míriam Leitão, e permitir que se viaje para uma nova economia.

Leia mais o artigo de Carlos Alberto Sardenberg

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