A violência mais perigosa
Não podemos falar em democracia plena se não conseguimos afiançar educação de qualidade para todos; se não oferecemos um bom sistema de saúde para o conjunto da população; se não possuímos isonomia jurídica (só vão para a cadeia pretos, pobres e prostitutas); se a corrupção tornou-se parte essencial do brasileiro; se há um fosso intransponível separando as classes sociais; se não compreendemos a ideia de bem público como bem comum. E se não temos sequer o direito de ir e vir. A nossa democracia se limita – e temos nos contentado com isso – ao exercício da escolha periódica dos governantes.
Se derrubamos a ditadura militar, não alcançamos recuperar integralmente a liberdade um dia perdida. Temos independência para votar, para opinar, para comprar, mas não para ir e vir – o que certifica a qualidade de vida de um povo. O tráfico de drogas, o sistema carcerário falido, a sensação de impunidade, a corrupção na polícia e no Judiciário, a pressão da sociedade consumista, a injustiça social, o contrabando de armas, o péssimo exemplo das autoridades, a impotência da população, tudo nos empurra para o encastelamento em edifícios superprotegidos, em casas-fortaleza, em condomínios fechados, onde, acreditando viver em cidadelas inexpugnáveis, apenas nos enredamos em solidão e egoísmo, apenas nos afastamos mais e mais das soluções para uma destinação coletiva.
Luiz Ruffato
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