domingo, 7 de dezembro de 2014

Congestão cívica

O PT perdeu o monopólio das ruas e conta agora apenas com a possível eficácia do aparelhamento das instituições.
 Um mérito não se pode negar ao PT: ao exacerbar a níveis impensáveis vícios que estão na origem e formação política do país – corrupção, populismo, impunidade, patrimonialismo, fraude eleitoral -, provocou uma espécie de congestão cívica.

O organismo nacional habituara-se a conviver com tais mazelas em graus, digamos, homeopáticos. Não estava preparado para uma overdose. O resultado é a diarreia institucional a que se assiste. O PT funciona como um purgativo que, no processo de desenvolvimento político do país, será um dia reconhecido como necessário para a cura de infecções imemorialmente instaladas.

Se se mantivessem os padrões anteriores de assalto aos cofres públicos e privatização do Estado, o partido teria contribuído para preservá-los. Não teria, numa palavra, feito a diferença. Ao levá-los ao paroxismo, com o propósito de perpetuar-se no poder – ou, como diz o texto de sua reforma política, de “tornar hegemônica a sociedade” -, sacudiu o espírito de tolerância da população.

Fez com que o cidadão comum – que paga impostos e mantém o Estado – obedecesse o que lhe pediu (com outra intenção, óbvio) o próprio Lula: que tirasse “a bunda do sofá” e fosse às ruas reclamar. O que se tem, neste momento, não é exatamente, como se pensava em junho do ano passado, uma insatisfação difusa. Hoje, tem nome e CNPJ: o PT.

Há, sim, desarticulação e ausência de líderes, mas a insatisfação não é difusa: é infusa. Transbordou, depois de mais de uma década de expectativas contrariadas. Paulo Roberto Costa disse, na CPMI, que sempre houve nomeações políticas na Petrobras. Com certeza. E o propósito de colocar políticos – ou apadrinhados de políticos - em uma empresa de natureza técnica não tinha propósitos técnicos. Isso é também óbvio.

Mas jamais nenhum deles colocou em risco a própria sobrevivência da empresa, baixando-a do quinto lugar no ranking mundial para a 120º posição. Supor que a quantidade não faz diferença é como equiparar um homicídio ao genocídio, uma guerra entre policiais e bandidos à bomba de Hiroshima.


A sociedade brasileira acostumou-se a ter governantes desonestos. Uns roubavam, mas faziam; outros não roubavam, mas deixavam roubar. Nenhum, porém, ousou chegar à casa do bilhão; nenhum concebeu uma ação sinérgica, que envolvesse toda a máquina pública, sem exceção. O PT sabe disso.

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