Era uma vez um menino chamado Davi N., cuja pontaria e habilidade no manejo da
atiradeira despertavam tanta inveja e admiração entre seus amigos da vizinhança
e da escola, que viam nele — e assim comentavam entre si quando os pais não
podiam escutar — um novo Davi.
O tempo passou.
Cansado do tedioso tiro ao alvo que praticava disparando pedrouços contra latas vazias e pedaços de garrafa, Davi descobriu um dia que era muito mais divertido exercer contra os pássaros a habilidade com que Deus o tinha dotado, de modo que dali em diante a exercitou contra todos os que se punham ao seu alcance, em especial contra Pardais, Cotovias, Rouxinóis e Pintassilgos, cujos corpinhos sangrentos caíam suavemente sobre a grama, com o coração ainda agitado pelo susto e a violência da pedrada.
Davi corria alegre até eles e os enterrava cristãmente.
Quando os pais de Davi se aperceberam desse costume do seu bom filho se alarmaram muito, lhe perguntaram o que é que era aquilo, e denegriram a sua conduta com termos tão ásperos e convincentes que, com lágrimas nos olhos, ele reconheceu sua culpa, se arrependeu sincero, e durante muito tempo se aplicou em disparar apenas sobre os outros meninos.
Dedicado anos depois às Forças Armadas, na Segunda Guerra Mundial Davi foi promovido até general e condecorado com as cruzes mais altas por matar sozinho trinta e seis homens, e mais tarde degradado e fuzilado por deixar escapar com vida um Pombo mensageiro do inimigo.
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