Os políticos que se dizem de esquerda, por ser o bom sítio
de se ser político, estão sempre a afirmar que são de esquerda, não vá a gente
esquecer-se ou julgar que mudaram de poiso. Mas dito isso, não é preciso ter de
explicar de que sítio são os atos que a necessidade política os vai obrigando a
praticar. Como os de direita, aliás, que é um lugar mais espinhoso. O que
importa é dizerem onde instalaram a sua reputação, na ideia de que o nome é que
dá a realidade às coisas. E se antes disso nos explicassem o que é isso de ser
de esquerda ou de direita? Nós trabalhamos com papéis que não sabemos se têm
cobertura, como no faz-de-conta infantil. Mas o que é curioso é que o comércio
político funciona à mesma com os cheques sem cobertura. E ninguém tira a limpo
esse abuso de confiança, para as cadeias existirem. Mas o homem é um ser
fictício em todo o seu ser. E é precisa a morte para ele enfim ser
verdadeiro.
Vergílio Ferreira (1916/1996)
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