Volto de dez dias na Amazônia. Volto com a sensação de urgência e a aflição de perda do futuro. Lá, em qualquer ponto, numa casinha de agricultor familiar, na zona rural de uma cidade do interior, há mais lucidez do que em Brasília, onde o presidente da República comanda novo ataque às eleições. Ele conspira desde o primeiro dia do seu mandato. O que agravou a situação foi a absurda atitude do Exército.
Faltam três meses para fechar o ano de 2022 para efeitos de desmatamento. O risco aumenta agora, entre maio e julho. O verão amazônico suspende as chuvas e isso estimula os grileiros e desmatadores. Neste ano tudo ocorre num grau muito maior.
— Este ano está sendo o tudo ou nada. O encontro da situação do governo com a pressão do ano eleitoral. Estão sendo derrubadas árvores e leis ambientais com a mesma velocidade — afirmou Márcio Astrini, do Observatório do Clima.
Astrini estava em São Paulo e eu em Marabá, quando nos falamos sobre os terríveis números de abril. Os dados me pareceram mais concretos do que nunca, porque o chão da Amazônia tem esse poder de nos trazer para o centro do universo. As árvores secas, em pé, em áreas onde agora há apenas capim, parecem gritos de socorro. Ao final de um dia em que aprendi muito com um grupo de mulheres, a leitura das notícias me mostrava retratos de um país governado por lunáticos. O presidente quer contratar empresa privada para auditar as eleições e já aposta que elas seriam inauditáveis, o ministro da Defesa mandou um ofício ao TSE pedindo a publicação das suas “propostas de aperfeiçoamento e segurança do processo eleitoral” e disse que não conseguira audiência com o presidente do TSE, mesmo tendo sido recebido nos dias 6 e 22. Essas propostas não querem aperfeiçoar coisa alguma. Elas têm um propósito claro. Não somos bobos.
— Nos três anos de governo Bolsonaro o desmatamento cresceu. Isso nunca aconteceu na história das medições. Caminhamos para o quarto ano de aumento, em 2022. No ano passado, um terço do desmate ocorreu em terra pública não destinada — diz Astrini.
É a sua, a minha, a nossa floresta que tomba, indefesa e vulnerável, pelo avanço de ladrões de terra pública, estimulados pelo governo e com a ajuda dos projetos liberadores da grilagem que tramitam no Congresso.
Se houver outra pessoa governando o Brasil no ano que vem, ainda assim 2023 pode ser ruim, explica Márcio Astrini. O segundo semestre já conta para o ano que vem pelo calendário do desmate e será difícil deter o ritmo da destruição.
— Não será fácil para nenhum governo reverter o legado de Bolsonaro. Haverá inclusive dificuldade de acesso a recursos internacionais que financiem o combate ao desmatamento, porque eles são liberados conforme a performance e o Brasil terá tido um péssimo desempenho — diz o coordenador do Observatório do Clima.
Em Brasília, o governo vive em delírio. A ele se junta o Exército. Das ambiguidades e dos silêncios aquiescentes, o comando da Força caminhou para o perigoso terreno de minar a confiança no processo eleitoral, o plano Bolsonaro. O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, justificou seu pedido ao TSE de divulgar as tais sugestões citando o pedido feito por um deputado bolsonarista que foi o relator do voto impresso. Bolsonaro faz nova ameaça. “As Forças Armadas não vão fazer papel de apenas chancelar o processo eleitoral, participar como espectadoras. Não vão fazer isso.”
É o Brasil, generais, é o Brasil que vocês têm que defender e não o governo. Lição número um de qualquer escola de cadetes. E o Brasil, senhores, está morrendo um pouco por dia na Amazônia.
Astrini estava em São Paulo e eu em Marabá, quando nos falamos sobre os terríveis números de abril. Os dados me pareceram mais concretos do que nunca, porque o chão da Amazônia tem esse poder de nos trazer para o centro do universo. As árvores secas, em pé, em áreas onde agora há apenas capim, parecem gritos de socorro. Ao final de um dia em que aprendi muito com um grupo de mulheres, a leitura das notícias me mostrava retratos de um país governado por lunáticos. O presidente quer contratar empresa privada para auditar as eleições e já aposta que elas seriam inauditáveis, o ministro da Defesa mandou um ofício ao TSE pedindo a publicação das suas “propostas de aperfeiçoamento e segurança do processo eleitoral” e disse que não conseguira audiência com o presidente do TSE, mesmo tendo sido recebido nos dias 6 e 22. Essas propostas não querem aperfeiçoar coisa alguma. Elas têm um propósito claro. Não somos bobos.
— Nos três anos de governo Bolsonaro o desmatamento cresceu. Isso nunca aconteceu na história das medições. Caminhamos para o quarto ano de aumento, em 2022. No ano passado, um terço do desmate ocorreu em terra pública não destinada — diz Astrini.
É a sua, a minha, a nossa floresta que tomba, indefesa e vulnerável, pelo avanço de ladrões de terra pública, estimulados pelo governo e com a ajuda dos projetos liberadores da grilagem que tramitam no Congresso.
Se houver outra pessoa governando o Brasil no ano que vem, ainda assim 2023 pode ser ruim, explica Márcio Astrini. O segundo semestre já conta para o ano que vem pelo calendário do desmate e será difícil deter o ritmo da destruição.
— Não será fácil para nenhum governo reverter o legado de Bolsonaro. Haverá inclusive dificuldade de acesso a recursos internacionais que financiem o combate ao desmatamento, porque eles são liberados conforme a performance e o Brasil terá tido um péssimo desempenho — diz o coordenador do Observatório do Clima.
Em Brasília, o governo vive em delírio. A ele se junta o Exército. Das ambiguidades e dos silêncios aquiescentes, o comando da Força caminhou para o perigoso terreno de minar a confiança no processo eleitoral, o plano Bolsonaro. O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, justificou seu pedido ao TSE de divulgar as tais sugestões citando o pedido feito por um deputado bolsonarista que foi o relator do voto impresso. Bolsonaro faz nova ameaça. “As Forças Armadas não vão fazer papel de apenas chancelar o processo eleitoral, participar como espectadoras. Não vão fazer isso.”
É o Brasil, generais, é o Brasil que vocês têm que defender e não o governo. Lição número um de qualquer escola de cadetes. E o Brasil, senhores, está morrendo um pouco por dia na Amazônia.
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