sábado, 6 de março de 2021

Pandemia da Covid-19 no Brasil pede medidas drásticas

O Brasil vive seu pior momento desde o início da pandemia. Não foi por falta de aviso. A comunidade científica alertou para a importância das medidas preventivas, para o uso de máscaras, para a importância de evitar aglomerações e de manter o distanciamento físico e social. O governo federal, ao contrário, negou a ciência e propagou desinformação. Não faltaram ocasiões em que o Presidente Jair Bolsonaro diminuiu a gravidade da pandemia, falou contra o uso de máscaras, promoveu curas milagrosas e incentivou aglomerações — inclusive participando pessoalmente de algumas.

A ciência é clara. Estratégias de contenção funcionam. E nem precisa ir muito além do senso comum para entender a razão. A transmissão do coronavírus é classificada como transmissão direta, via gotículas. Direta porque exige o contato próximo entre pessoas, e por gotículas porque o vírus é carregado justamente nas gotículas que emitimos ao falar, espirrar, tossir. Outro fator relevante é que a transmissão ocorre antes do aparecimento dos sintomas, então pessoas vão circular livremente sem saber que estão transmitindo.


Assim, a melhor maneira de interromper a transmissão é implementar medidas para reduzir a interação entre pessoas e reduzir a emissão das gotículas. Exemplos recentes de Portugal e Inglaterra, que adotaram esta estratégia, ainda que tardiamente, comprovam isso. Portugal reduziu o número de casos de aproximadamente 16 mil para menos de mil, em um mês de lockdown. As internações caíram 73%. Na Inglaterra, a média móvel de óbitos foi de 619 para 314 em dois meses.

Aqui, sem medidas preventivas e sem vacinas, chegamos a uma situação de total descontrole da pandemia, onde o vírus ganha fácil a corrida, e a circulação livre da doença favorece o surgimento de linhagens mais bem adaptadas, mais transmissíveis e capazes de escapar de anticorpos e vacinas.

O resultado é um vírus mais bem sucedido em nos infectar, e uma população confusa e dividida, sem saber em quem confiar. Nessa situação, finalmente começamos a considerar medidas mais drásticas como o lockdown. A verdade é que esta é uma estratégia que teria sido melhor se utilizada no início, como uma tropa de choque, para depois ser seguida por medidas menos proibitivas e de longa duração.

Antes tarde do que nunca, mas ainda enfrentamos a resistência de setores da economia que questionam a validade e necessidade da intervenção. Com um planejamento adequado, estes setores estariam protegidos com auxílios governamentais e teríamos vacinas em quantidade adequada. Citação atribuída ao escritor americano Robert Heinlein, conhecida como “navalha de Heinlein”, diz: “Nunca atribua à malícia o que pode ser adequadamente explicado pela estupidez”.

Seja por estupidez ou plano de governo, chegamos a quase dois mil mortos por dia e à beira do colapso do sistema de saúde. Enquanto a ciência mostra o caminho no resto do mundo, no Brasil ainda se debate a falsa dicotomia entre priorizar economia ou saúde. Ou fechamos agora para lockdown ou o único setor da economia priorizado será o funerário. 

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