No país da fantasia, os generais palacianos adulam o capitão reclamando do excesso de cadáveres no noticiário. E o Ministério da Saúde, convertido numa trincheira em que um general paraquedista comanda duas dezenas de militares e um par de soldados do centrão, transforma pandemia em pantomina tragicômica.
"Não vejo que o governo quer esconder os dados", disse o general Hamilton Mourão, vice-presidente do País das Maravilhas, ao comentar a mudança no modelo de divulgação da contabilidade fúnebre do coronavírus. "Ele mudou a metodologia. Não apresenta os números totais, que basta você somar com o dia anterior."
Horas depois, na noite de domingo, descobriu-se que, na pasta da Saúde, soma virou subtração. Cadáver, abstração. Às 20h30m, informou-se que 1.382 mortes foram registradas nas 24 horas anteriores. Dali a uma hora e meia, 857 cadáveres tomaram chá de sumiço. Em novo levantamento, o número de mortos caiu para 525.
O vaivém denuncia o desejo incontido do capitão de sumir com um pedaço da pilha de mais de 35 mil cadáveres, ajustando a realidade ao universo paralelo da "gripezinha". O problema é que os cadáveres estão aí.
Aliás, há tempos que nada esteve tão aí como a pilha de corpos do coronavírus. Os milhares de defuntos são a definição da coisa que está, inegavelmente, ali, e sobre a qual nenhuma desconversa é possível.
Fica entendido que, no regime militar que Bolsonaro inventou para seu próprio deleite, os cadáveres devem ser descartados, pois ameaçam a ordem da fantasia. Agora só falta arranjar desculpas melhores. Fazer desaparecer 35 mil cadáveres não é tão simples quanto sumir com o Fabrício Queiroz.
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