Enquanto trocamos mensagens de vida, Bolsonaro exala o bafio da morte. Seu desprezo pela dor de seus governados é acachapante —morram quantos morrerem, isso não é com ele, é com “o destino”. Nenhum filho, pai ou esposo dos já atingidos mereceu uma palavra sua, exceto “E daí? Não sou coveiro”. Nenhum médico ou enfermeiro, que a cada minuto corre risco de contágio, recebeu um gesto de solidariedade de sua parte.
Curiosamente, só nós perdemos parentes, amigos e pessoas que admiramos, ou que não conhecemos, mas passamos a admirar por seus obituários. É como se a Covid só levasse os bons, os decentes, os que tinham o que dar à vida. Ainda não fiquei sabendo da morte de ninguém próximo de Jair “Porra” Bolsonaro ou Ricardo “Boiada” Salles. Ou das sumidades fardadas que passaram a dar as ordens no Ministério da Saúde e a esconder o número de casos. Ou dos prefeitos que estão mandando as pessoas para a rua, justamente agora que, com uma morte por minuto —por enquanto—, a pandemia se aproxima do seu apogeu.
Logo chegaremos a um milhão de infectados. Eles sofrerão a falta de leitos, de respiradores e de médicos nos hospitais e perceberão como, desde o começo, Bolsonaro trabalhou para matá-los. Muitos desses foram eleitores dele. Mas, de novo, para Bolsonaro, e daí? Eles já votaram em 2018 e o elegeram.
E Bolsonaro espera não precisar mais dos seus votos. Nem dos de mais ninguém.Ruy Castro
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