Na aparência, uma união de esforços contra o inimigo comum. Na realidade, uma evidência do estilhaçamento da tropa federal. Em meio a uma pandemia de contornos inéditos, o Brasil começa a perceber a falta que faz um presidente da República.
Num governo convencional, em que o presidente preside, o ministro segue as determinações do chefe. Se suas ações não ornam com os objetivos do presidente, ele é mandado embora. Se, ao contrário, o ministro recebe ordens para fazer algo de que discorda, é ele quem pede pra sair. No governo atual, marcado pela anormalidade, Mandetta defende uma coisa —o isolamento social— e Bolsonaro advoga o oposto —a reabertura do comércio e a volta dos mais jovens ao trabalho. O ministro valoriza a ciência. O presidente guia-se pelo achismo.
Sem uma coordenação central, governadores e prefeitos implementam o isolamento social meio na galega, cada um à sua maneira. O ministro pede à população que siga as recomendações dos governadores. O hipotético presidente ameaça baixar um decreto autorizando a volta às atividades de trabalhadores formais e informais.
Simultaneamente, o Ministério da Economia prepara a execução de medidas de socorro a pessoas e empresas vulneráveis, para dar fôlego ao confinamento que Bolsonaro quer interromper. Isso não se parece com um governo. Tem outro nome. Chama-se balbúrdia.
Produziram-se dois fenômenos políticos surpreendentes: 1) Bolsonaro conseguiu dar um conteúdo oposicionista à sua Presidência; 2) A oposição que o suposto presidente faz à sua própria administração gerou no Executivo uma instabilidade que inflou a relevância do Legislativo e do Judiciário. Há em Brasília uma articulação subterrânea de parlamentares e magistrados para deter eventuais anomalias surgidas nesse período em que o país se ressente da falta de um presidente da República.
Nenhum comentário:
Postar um comentário