As grandes instituições bancárias do país – Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Santander e Caixa Econômica Federal – anunciaram ontem que de 2 a 6 de dezembro vão concentrar seus trabalhos na negociação das dívidas de 64 milhões de brasileiros que ingressaram no terreno da inadimplência. São aqueles clientes que se encontram com mais de 90 dias sem pagar o que devem. A reportagem de Rennan Setti e Patrícia Valle destaca bem a questão da inadimplência, na edição de terça-feira de O Globo.
Os descontos são enormes, superando até as expectativas dos próprios devedores. É sinal, digo eu, de que as dívidas que contraíram são impossíveis de cobrar, por vários motivos, entre os quais a ausência de bens a serem executados. Além disso como poderia o sistema bancário acionar 64 milhões de pessoas? Seria perda de tempo. Renegociando os débitos, os bancos conseguem reduzir a inadimplência que se generalizou no Brasil.
Com uma inadimplência desse nível, é impossível aumentar o consumo de bens no país. Para ampliar o consumo, de fato só existem dois caminhos: reduzir o desemprego, valorizando os salários, ou então levando a sociedade a quitar suas dívidas hoje, porém nesse caso existe o risco social de criar as dívidas de amanhã.
Isso porque, com a quitação de débitos em atraso, o mercado consumidor passa a realizar novas compras a prazo, o que conduzirá a uma nova fase de inadimplência, tão logo passem os efeitos do 13º salário.
É um desafio para o governo Bolsonaro, sobretudo porque, formalizado novo endividamento, será ainda mais difícil para os bancos e financeiras obterem sucesso através da nuvem de ofertas sedutoras.
Realmente, o montante do endividamento será altamente nocivo para todos: governo, bancos, financeiras e lojas com financiamento direto. O lance de dados agora volta-se para a tentativa de fazer a roda girar, elevando a capacidade de compra e sua disposição de fazê-lo por classes assalariadas que se encontram em dificuldades, a qual se torna impossível de cobrar na mesma proporção que os consumidores têm de pagar.
Dentro desse quadro, a publicidade intensifica-se para fazer com que o mercado adquira os produtos à venda com juros embutidos previamente nos preços. Mas esta é outra questão. A meu ver é fundamental chegar à conclusão de que a grande fonte de consumo é a população brasileira. Mas sua dificuldade aumenta na mesma proporção causada pela incidência de juros sobre as compras oferecidas.
Assim não fosse, claro, o sistema bancário não proporia a redução das inadimplências, uma vez que assim agindo diminui seus lucros. Entretanto, o desafio só terá solução quando o desemprego diminuir. Mas não só o desemprego, também os salários não perderem para a inflação.
Pedro do Coutto
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