Em política, quem escolhe o momento exato economiza muito tempo. Nesse escândalo do laranjal do PSL, Bolsonaro dormiu no ponto. O tempo de que o presidente dispunha para afastar o ministro não existe mais. Agora só existe o passar do tempo. E quanto mais o tempo passa, quanto maior for a sobrevida concedida ao ministro, maior será também o processo de apodrecimento do próprio governo.
Eu costumo dizer que, nas questões éticas, Bolsonaro opera em duas velocidades, ambas insultuosas. O presidente é intelectualmente lento e moralmente ligeiro. A lentidão intelectual faz com que Bolsonaro demore a perceber que sua inação faz do discurso de campanha um estelionato eleitoral. A ligeireza moral leva Bolsonaro a tratar os auxiliares em litígio com a lei com a mesma condescendência que dispensa ao filho Flávio Bolsonaro, encrencado num caso de peculato e lavagem de dinheiro.
Nesse contexto, o ministro Sergio Moro, que funcionaria como filtro moral do governo, ganha um novo sentido para permanecer no Ministério da Justiça. O ministro incorpora-se à paisagem de Brasília como uma espécie de atração turística. Ministros encrencados, como o do Turismo —que não é o único, diga-se—, frequentam as reuniões ministeriais ao lado de Moro como se estivessem no mirante das cataratas do Iguaçu. Sabem que é perigoso. Mas o perigo é apenas presumido.
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