Surpreendia no futurismo, além de suas pinturas, desenhos, textos e músicas incompreensíveis, o encanto pelo militarismo, as armas, o patriotismo e a guerra, em contradição com a sua proposta de uma nova arte, contra tudo que aí está. É bizarro que um movimento radicalmente libertário e anárquico glorificasse a força bruta, a disciplina e a xenofobia contra o humanismo, o racionalismo e o iluminismo. Esses italianos deviam estar muito loucos, o haxixe, a cocaína e o ópio eram livres na Europa da Belle Époque...
Donald Trump não sabe, mas é um futurista. Seu desprezo pelas artes, pela natureza, pela história e pela cultura combinam com seu belicismo, seu militarismo, seu ultranacionalismo e sua intolerância autoritária. O futurismo americano se nutre da fartura econômica.
No Brasil endividado, o futurismo chegou atrasado, 110 anos depois do manifesto de Marinetti, que, não por acaso, veio ao Brasil em 1936 para fazer conferências e propaganda do fascismo como representante do governo Mussolini.
Nosso futurismo é passadista, com revisões históricas falsificadas, nostalgia autoritária, guerra à liberdade individual, devoção ao Estado, crença em teorias anticientíficas e mitos religiosos, no poder das armas e do militarismo, confirmando a máxima do professor Pedro Malan: “No Brasil até o passado é incerto.”
Nelson Motta
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