Gabriel e Dyogo estudavam e queriam ser jogadores de futebol. Henrico trabalhava como estoquista de supermercado. Margareth estava com seu filho de um ano, que foi baleado de raspão. Aos parentes de Dyogo e Henrico, policiais militares afirmaram que ambos estavam armados e tinham envolvimento com o tráfico de drogas. É mentira, como sabem todos os que os conheciam e que têm chorado suas mortes.
Wilson Witzel, essa mistura de sargento Pincel com sargento Tainha que ora desgoverna o Rio, soltou sua voz de durão: “Se os criminosos acham que, matando inocentes, vão fazer com o que o estado pare, eles estão absolutamente enganados”. Criminosos, no caso, são os seus policiais, governador. São eles que têm assassinado jovens aos magotes. Jovens pobres, é claro. Para Witzel, os ricos são “cidadãos de bem”.
De janeiro a junho deste ano, as forças de segurança (sic) mataram 881 pessoas. No mesmo período de 2018, foram 769 vítimas. Em 2018, 580.
Como sempre enfatizam os adoradores da matança, se o número de homicídios está menor, é compreensível que, na conta final, a porcentagem das mortes provocadas pela polícia seja maior. Certo, mas essa conta nunca vai fechar se todas as taxas não caírem.
Embora, como se diz no jargão jornalístico, os números falem qualquer coisa se torturados, não há como provar que o aumento de um índice está relacionado à queda do outro. No chamado “mundo do crime”, a reserva de mão de obra é infinita. Não há emprego, não há educação, não há assistência social, a atração pelo dinheiro rápido é enorme... Quanto mais morre gente, mais gente entra.
Além disso, recomenda-se algum recato: como festejar que 3.048 pessoas morreram no estado, sendo 881 pelas mãos da polícia? E alguém acredita mesmo que foram 881 criminosos? Gabriel, Dyogo, Henrico e Margareth não eram. E muitas mortes não são tratadas como responsabilidade de policiais, mas como “balas perdidas”.
As operações nos quais se dão confrontos são inúteis. Não acabam com o tráfico nem reduzem a quantidade de armas, porque sempre chegam mais, inclusive graças à polícia. Os moradores do Rio sabem que é comum traficantes pagarem propina a policiais. É o “arrego”. E também é comum que armas e drogas apreendidas sejam desviadas – para as milícias, por exemplo – ou revendidas (sim, para o tráfico).
Mesmo ciente de que se trata de mentiras, a imprensa repete clichês distribuídos pelas assessorias. “Policiais estavam fazendo patrulhamento de rotina quando foram surpreendidos por traficantes armados” – não funciona assim, porque uma parte sabe onde fica a outra, ninguém é surpreendido como se estivesse num desenho animado. Ou “morreram ao dar entrada no hospital” – os corpos são despejados nos hospitais para que não sejam feitas perícias nos lugares em que as mortes ocorreram. E o pior é tratar todos como “suspeitos” – de qual crime previsto no Código Penal?
No primeiro semestre morreram 31 policiais, bem menos do que os 67 de 2018. Ainda é muito. E parte deles morre fora de serviço, fazendo bicos. Matam e morrem demais por nada que dê resultados concretos. Enxugam gelo com sangue.
Na segunda 12, relatos e desenhos de crianças moradoras do Complexo da Maré foram entregues ao Tribunal de Justiça do Rio.
“Boa tarde. Eu queria que parassem as operações porque muitas famílias serão mortas. Agora, eu estou sem quarto porque vocês destruíram na operação. Todo mundo na minha escola chora, meu irmão morreu por causa dos policiais e eles bateram no meu primo.”
“Eu não gosto do helicóptero porque ele atira para baixo e as pessoas morrem.”
Quem está escrevendo não é “bandido”. É possível ler isso e continuar pedindo mais sangue, mais mortes?
Só na Maré, houve 21 operações policiais neste primeiro semestre, com 15 mortos. Em 14 delas foram utilizados helicópteros.
Witzel quer ser candidato à Presidência e parece achar que o melhor caminho é superar Jair Bolsonaro em truculência. Está se candidatando a réu na Corte Penal Internacional, em Haia.Luiz Fernando Vianna
De janeiro a junho deste ano, as forças de segurança (sic) mataram 881 pessoas. No mesmo período de 2018, foram 769 vítimas. Em 2018, 580.
Como sempre enfatizam os adoradores da matança, se o número de homicídios está menor, é compreensível que, na conta final, a porcentagem das mortes provocadas pela polícia seja maior. Certo, mas essa conta nunca vai fechar se todas as taxas não caírem.
Embora, como se diz no jargão jornalístico, os números falem qualquer coisa se torturados, não há como provar que o aumento de um índice está relacionado à queda do outro. No chamado “mundo do crime”, a reserva de mão de obra é infinita. Não há emprego, não há educação, não há assistência social, a atração pelo dinheiro rápido é enorme... Quanto mais morre gente, mais gente entra.
Além disso, recomenda-se algum recato: como festejar que 3.048 pessoas morreram no estado, sendo 881 pelas mãos da polícia? E alguém acredita mesmo que foram 881 criminosos? Gabriel, Dyogo, Henrico e Margareth não eram. E muitas mortes não são tratadas como responsabilidade de policiais, mas como “balas perdidas”.
As operações nos quais se dão confrontos são inúteis. Não acabam com o tráfico nem reduzem a quantidade de armas, porque sempre chegam mais, inclusive graças à polícia. Os moradores do Rio sabem que é comum traficantes pagarem propina a policiais. É o “arrego”. E também é comum que armas e drogas apreendidas sejam desviadas – para as milícias, por exemplo – ou revendidas (sim, para o tráfico).
Mesmo ciente de que se trata de mentiras, a imprensa repete clichês distribuídos pelas assessorias. “Policiais estavam fazendo patrulhamento de rotina quando foram surpreendidos por traficantes armados” – não funciona assim, porque uma parte sabe onde fica a outra, ninguém é surpreendido como se estivesse num desenho animado. Ou “morreram ao dar entrada no hospital” – os corpos são despejados nos hospitais para que não sejam feitas perícias nos lugares em que as mortes ocorreram. E o pior é tratar todos como “suspeitos” – de qual crime previsto no Código Penal?
No primeiro semestre morreram 31 policiais, bem menos do que os 67 de 2018. Ainda é muito. E parte deles morre fora de serviço, fazendo bicos. Matam e morrem demais por nada que dê resultados concretos. Enxugam gelo com sangue.
Na segunda 12, relatos e desenhos de crianças moradoras do Complexo da Maré foram entregues ao Tribunal de Justiça do Rio.
“Boa tarde. Eu queria que parassem as operações porque muitas famílias serão mortas. Agora, eu estou sem quarto porque vocês destruíram na operação. Todo mundo na minha escola chora, meu irmão morreu por causa dos policiais e eles bateram no meu primo.”
“Eu não gosto do helicóptero porque ele atira para baixo e as pessoas morrem.”
Quem está escrevendo não é “bandido”. É possível ler isso e continuar pedindo mais sangue, mais mortes?
Só na Maré, houve 21 operações policiais neste primeiro semestre, com 15 mortos. Em 14 delas foram utilizados helicópteros.
Witzel quer ser candidato à Presidência e parece achar que o melhor caminho é superar Jair Bolsonaro em truculência. Está se candidatando a réu na Corte Penal Internacional, em Haia.Luiz Fernando Vianna
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