Nada que passageiros de outras capitais e de outros estados já não conheçam bem mas, pior do que a esticada e a espera, é a sensação de desprestígio e de falência da nossa cidade, que tinha tudo para ser um dos maiores destinos turísticos do mundo, e que, em vez disso, afunda na mais completa irrelevância.
O Galeão passou por obras gigantescas, consumiu bilhões em reformas e propinas, e agora está lá, metade morto, “legado olímpico” de um país que não sabe escolher prioridades. Enquanto isso, mantendo a tradição, presidente e governador sonham com um autódromo, porque é mais conveniente criar novos problemas do que resolver os antigos.
Sempre que visito as ruínas de grandes capitais que morreram fico me perguntando como aquilo aconteceu. Como cidades importantes como Babilônia ou Persépolis desapareceram, como a Humanidade perdeu o caminho para Teotihuacán, Tikal ou Angkor?
The Guardian |
Tudo isso se entende.
Mas “declínio”? Como é que uma cidade enorme, habitada por milhares de pessoas, entra em declínio? Como é que os seus habitantes aceitam o destino passivamente, como não tomam providências antes que seja tarde demais?
Todas as casas construídas, as estradas, templos, praças, comércios — como se deixa que desapareçam? Tanto esforço, trabalho e amor perdidos.
Estive em Detroit no final dos anos 1990, e me senti no futuro do passado diante dos edifícios abandonados, das lojas fechadas e, sobretudo, diante da Michigan Central Station, uma estação ferroviária imponente e deserta, suas centenas de janelas estilhaçadas uma a uma, num exercício metódico de barbárie.
Ali comecei a compreender como uma cidade morre.
As pessoas que podiam ir embora antes que tudo degringolasse de vez tinham ido embora, justamente como, agora, tanta gente está indo embora do Rio de Janeiro. Ficaram para trás os despossuídos, incapazes de ganhar sequer o dinheiro de uma passagem, que dirá de manter uma cidade funcionando.
Na última terça-feira, o jornal publicou uma entrevista de Alessandro Giannini com Jorge Peregrino, presidente da Academia de Cinema Brasileiro, sobre a mudança do Grande Prêmio Brasileiro de Cinema — que, ontem, foi entregue pela primeira vez em São Paulo.
“O Rio não estava se mexendo”, disse ele. “Conversei com o estado e com o município e a coisa não andava. Peguei um avião para São Paulo, para tentar vender o prêmio, e a acolhida, tanto do estado quanto do município, foi sensacional. Este ano, a cerimônia vai ser no Teatro Municipal. E já fechamos no ano que vem com a Sala São Paulo, que é estadual”.
Cora Rónai
Todas as casas construídas, as estradas, templos, praças, comércios — como se deixa que desapareçam? Tanto esforço, trabalho e amor perdidos.
Estive em Detroit no final dos anos 1990, e me senti no futuro do passado diante dos edifícios abandonados, das lojas fechadas e, sobretudo, diante da Michigan Central Station, uma estação ferroviária imponente e deserta, suas centenas de janelas estilhaçadas uma a uma, num exercício metódico de barbárie.
Ali comecei a compreender como uma cidade morre.
As pessoas que podiam ir embora antes que tudo degringolasse de vez tinham ido embora, justamente como, agora, tanta gente está indo embora do Rio de Janeiro. Ficaram para trás os despossuídos, incapazes de ganhar sequer o dinheiro de uma passagem, que dirá de manter uma cidade funcionando.
Na última terça-feira, o jornal publicou uma entrevista de Alessandro Giannini com Jorge Peregrino, presidente da Academia de Cinema Brasileiro, sobre a mudança do Grande Prêmio Brasileiro de Cinema — que, ontem, foi entregue pela primeira vez em São Paulo.
“O Rio não estava se mexendo”, disse ele. “Conversei com o estado e com o município e a coisa não andava. Peguei um avião para São Paulo, para tentar vender o prêmio, e a acolhida, tanto do estado quanto do município, foi sensacional. Este ano, a cerimônia vai ser no Teatro Municipal. E já fechamos no ano que vem com a Sala São Paulo, que é estadual”.
Cora Rónai
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