quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Não se conter é burrice, Bolsonaro

Ao não refrear os seus impulsos, Jair Bolsonaro está levantando a bola para a esquerda nacional e internacional cortar.

Porque o discurso agressivo funcionou na eleição presidencial e funciona para Donald Trump, que serve de espelho a Bolsonaro, isso não significa que continuará a dar certo para sempre. No caso de Trump, ele — ainda — tem o bom desempenho da economia dos Estados Unidos para chamar de seu e, como oposição, conta com um Partido Democrata cada vez mais radicalizado que vai de encontro às tradições americanas. Bolsonaro, a despeito da pequena melhora nos índices econômicos, governa um país combalido e pode ter de enfrentar uma recessão global a partir de um posição muito frágil. Além disso, não tem partido digno desse nome, para enfrentar uma oposição cada vez mais ampla no espectro que vai do centro à extrema esquerda.

A maior parte do eleitorado de Bolsonaro o escolheu ou por falta de opção ou por acreditar que ele faria as reformas de que o país precisa, não por compartilhar da sua agenda ideológica mais estrita — e, agora, esse mesmo eleitorado assusta-se com as suas falas amplificadas pela esquerda, mesmo quando a esquerda se apoia em verdades, meias-verdades ou simplesmente mentiras. A rota de colisão com Sergio Moro também é um tanto suicida, não importa se por conveniência familiar ou receio de concorrência em 2022. O ex-juiz é a personalidade mais popular do país, tornou-se símbolo da Lava Jato e encarna a esperança dos cidadãos na luta contra a criminalidade do dia a dia, uma das bandeiras da campanha eleitoral do atual presidente.

Bolsonaro não vai mudar, seria ilusão pensar que seja capaz disso a esta altura, mas poderia tentar segurar um pouco os seus ímpetos. Uma agressão ao bom senso por semana já seria suficiente para a manutenção do clima de beligerância que parece tão necessário ao seu ego e aos instintos dos seus seguidores. A contenção faria bem a si próprio e ao país. Não se conter é burrice.

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