Enquanto aquele homem exerce seus podres poderes, nós temos uma importante missão a cumprir: encontrar formas de refazer os caminhos que ele destruiu. Parece que somente ir às ruas, participar de protestos, não tem sido o suficiente. É essencial, mas não basta.
O governo com caixa baixa continua a mastigar as pessoas, a cuspir coisas terríveis, incendiar revoltas e a devorar (ou pelo menos tentar destruir) quem defende saídas libertárias. O escândalo está no fato de que grande parte dos seus simpatizes ainda têm orgulho de conduzir nos ombros o caixão de um defunto em decomposição.
Nesse contexto, o que a oposição faz ou deixa de fazer surte pouco efeito. É um tempo difícil, que nos pede decisões corajosas e boas ideias para propor algo construtivo. Sim, existe um dado novo na história, que é preciso considerar, as panelas voltaram a ser amassadas nas janelas dos apartamentos da classe média.
Mas, não se espere que os batedores de panelas se disponham a vir às ruas, protestar. O perfil de quem bate panela não mudou. São pessoas que vivem nos armários das cozinhas das casas-grandes. Primeiro, essa gente apaga a luz da sala e quando se garante no anonimato da penumbra é que se encoraja para expressar a insatisfação.
Apesar disso, é uma categoria que, pelo visto, vai crescer. E ela traz consigo uma “fortuna” política e eleitoral. Por isso, do ponto de vista político, vale a pena fazer e refazer contatos. Se for o caso de primeiro, segundo e terceiro graus. É necessário pensar em estratégias de aproximação, aproveitando a onda. A pergunta é: como atrair os arrependidos e amargurados?
A questão ambiental é um tema que agrada à classe média e as queimadas na Amazônia, na semana, fizeram o governo perder simpatizantes. As fogueiras esquentaram a consciência e levaram muita gente para as janelas no Rio, São Paulo, Brasília, Recife e outras capitais. Mas, quando as florestas virarem cinzas e as cinzas esfriarem, será que os manifestantes continuarão protestando contra o governo ou voltarão a compreendê-lo? Os gatos adoram um melzinho no bigode.
Na semana passada, numa reunião (anterior ao panelaço) com um grupo de amigos, conversávamos sobre literatura e o assunto derivou para a política. Uma das conversas foi a eficácia dos protestos de rua, que estão se tornando cada vez mais frequentes. Eles são essenciais num regime democrático, mas insuficientes neste momento. O governo toma conhecimento das manifestações, faz a egípcia e a vida segue.
Uma psicóloga, que estava na reunião, disse que além dos protestos de rua, é preciso haver um trabalho de base. Os políticos de mandato assim como os militantes políticos deveriam adotar uma prática de procurar as pessoas para que elas se sintam chamadas a fazer parte de um movimento (sobretudo na classe média); que se estimule nelas o desejo de participar das lutas de transformação da sociedade.
As pessoas precisam ser iluminadas pelas informações para verem que a realidade presente é nociva para todos. Ou seja, este é um momento que pede os encontros. Pede diálogo. Mas, é preciso chegar pisando de leve, com sutileza, porque ainda há muita ferida aberta. Os arrependidos e amargurados precisam entender que a opção de mudar vai fazê-los mais fortes e esperançosos, pois o discurso do ódio é quem enfraquece e divide.
A psicóloga tem razão, o entendimento é quem vai fechar o ciclo da ignorância e da intolerância. Eu acho que faz sentido: é necessário estabelecer uma relação de confiança e cumplicidade e assim desfazer o discurso do ódio que nos levou à separação.
Para esta minha amiga psicóloga, quando as pessoas receberem boas informações, em conversas olho no olho, quando “sentirem firmeza”, poderão mudar. Uma boa conversa, realista e honesta, vai criar uma narrativa política que pode abrir espaço para um momento novo.
Os resultados não serão colhidos de imediato. Mas, toda ação política é extenuante mesmo. Diálogo é promessa de retorno. Governos vêm e vão e o que fica são as ideias. Essas são à prova do tempo. Costurando uma malha de afinidades, no dia em que esse sistema escroto e carcomido ruir, as pessoas estarão politizadas, “vacinadas” e fortalecidas para experimentar uma mudança que atenda aos interesses de todos.
Cícero Belmar
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