quarta-feira, 28 de agosto de 2019

A pressão das redes sociais

Na mídia tradicional, nas novas mídias, nas redes sociais - onde quer que haja pessoas se manifestando, lá está o tópico do momento. Nunca houve tantos "especialistas" em florestas dando palpite, a começar por chefes de governo que deveriam ser mais bem assessorados (e nem estou falando do nosso).

O que aconteceu? Como já foi dito incontáveis vezes, o problema não é novo, há queimadas e incêndios todos os anos. O que nunca houve antes foi um discurso estúpido como o de Bolsonaro, que sinalizou um claro "liberou geral!" para madeireiros e mineradores, e um mundo tão conectado, onde nada passa despercebido, e onde cada palavra é amplificada numa potência nunca imaginada.

Até outro dia, governos contavam com equipes inteiras de especialistas em relações públicas para evitar desgastes desnecessários, e impedir que uma ocasional palavra mal colocada detonasse uma crise. Bolsonaro, mirando-se em Trump, acha que nada disso é necessário: o importante é mitar no Twitter distribuindo caneladas.

Acontece que não basta ter sido eleito para saber ser presidente. É preciso ter sensibilidade social e política, e ter pelo menos um mínimo de noção de como se conduzir no cenário mundial, coisas que Bolsonaro acaba de provar - como se ainda fosse necessário - que não tem.

Num momento em que as mudanças climáticas estão em evidência, e que o mundo todo se preocupa com a preservação do meio ambiente, tudo o que as redes sociais não precisavam para arder junto com as matas era de um vilão universal.

Pois, com ajuda de Ricardo Salles, Bolsonaro colou o rótulo à própria testa, e se saiu melhor do que a encomenda. Ele não é apenas um vilão; é um vilão de anedota, sem uma qualidade que o redima. É um vilão que agride outros países, zomba dos mais fracos, ofende mulheres. Seu discurso vai contra tudo o que identificamos com o processo civilizatório.

Entre tuitadas indignadas de celebridades e de políticos, a internet explodiu - e o Brasil virou o pária de que até governos populistas, sempre atentos ao movimento das redes, fogem. Reconstruir uma boa imagem vai exigir paciência e talento, ou seja, não vai acontecer tão cedo.

Por outro lado, pensando única e exclusivamente sob o ponto de vista da defesa da floresta, acho que Bolsonaro talvez tenha sido a melhor coisa que já aconteceu à Amazônia. Sem a sua falta de sensibilidade e de compostura, as queimadas ainda estariam acontecendo ao som dos "tsks, tsks" pouco interessados da comunidade internacional e da cara de paisagem de presidentes mais hipócritas, e se repetiriam ano após ano até tudo estar definitivamente perdido.

Agora a Amazônia entrou, enfim, no centro do debate, que é onde já deveria estar há tempos, e de onde é de se esperar que não saia tão cedo: milhares de ONGs tentaram fazer isso ao longo dos anos, mas nenhuma conseguiu.

As redes sociais estão em alerta, o que significa que o mundo está em alerta - e, trunfo máximo, os consumidores estão em alerta. O agronegócio, que de burro não tem nada, presta atenção; governos mais inteligentes do que o nosso prestam atenção também.

Que continue assim.

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