Bolsonaro estava no alvorecer de sua carreira política quando o então presidente Fernando Collor assinou, em maio de 1992, o decreto que homologou a reserva dos índios Yanomami. Num pronunciamento de novembro de 1995, o então deputado Bolsonaro declarou: "Com a indústria da demarcação das terras indígenas, assim como Quebec quase se separou do Canadá, num curto espaço de tempo, os Yanomamis poderão, com o auxílio dos Estados Unidos, vir a se separar do Brasil".
Decorridos 24 anos desse pronunciamento, o "curto espaço de tempo" de Bolsonaro ainda não chegou. Os Yanomamis continuam submetidos ao descaso do Estado brasileiro, que não consegue evitar a invasão de mineradores ilegais à reserva. Os Estados Unidos ainda não invadiram a Amazônia. O atual presidente norte-americano, Donald Trump, alia-se a Bolsonaro no embate contra o neocolonizador francês Emmanoel Macron.
Enquanto o capitão transfere para o Planalto obsessões que cultivou em seus 28 anos de baixo clero parlamentar, a respeitabilidade ambiental que o Brasil levou duas décadas para conquistar vai virando cinzas.
A boa imagem do Brasil arde graças a um governo que afrouxou a engrenagem fiscalizatória, rasgou dinheiro doado por parceiros estrangeiros, fechou os olhos para as violações à floresta e hostiliza índios num instante em que tenta apagar por pressão um fogo que não combateu por obrigação.
A gestão Bolsonaro é a verdadeira assombração, não as aldeias indígenas. Felizmente, fantasma não aparece em espelho. Do contrário, o capitão levaria um susto a cada manhã, quando fosse escovar os dentes.
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