Enquanto a ativista climática Greta Thunberg consegue mobilizar a juventude da Espanha, muitos se perguntam se os políticos espanhóis realmente perceberam a importância da proteção ambiental e das energias renováveis para a nação do sul da Europa.
Na recente reunião do EuroMed-7, grupo que reúne sete países mediterrâneos membros da União Europeia (UE), o chefe do governo espanhol Pedro Sánchez disse que sua nação deve tomar a liderança da proteção climática na Europa, indicando que a elevação das temperaturas e ventos fortes já estariam causando impacto na mais estável fonte de renda da Espanha – o turismo.
Isso explica a presença de Sánchez na conferência de proteção climática Change the Change (Mude a mudança), em San Sebastián, no início deste ano, para apoiar a reivindicação de acelerar as medidas de proteção do clima. "Temos que levar a sério nossas metas climáticas", disse Sánchez, que aspira liderar a campanha europeia.
O premiê espanhol planeja apresentar o nome de Teresa Ribera, sua ministra do Meio Ambiente e Energia, para o cargo de vice-presidente da Comissão Europeia. Luis Merino, do periódico Energias Renovables, a elogiou recentemente por revogar um imposto sobre painéis solares, afirmando que ela preparou o terreno para uma nova política energética no país.
Atualmente, a Espanha ainda precisa importar 40 bilhões de euros (cerca de 174 bilhões de reais) em gás e petróleo anualmente, principalmente da Argélia e da Arábia Saudita. O país poderia economizar pelo menos parte desse dinheiro, ampliando o uso de energia solar.
A Espanha possui 3 mil horas de sol por ano e dispõe de muitas áreas não utilizadas onde fazendas solares podem ser construídas, apontou José Carlos Díez, da Universidade de Alcala, perto de Madri.
"Produzimos 1 megawatt de eletricidade solar por 30 euros – na Alemanha e na França, pagam-se 40 euros pelo mesma quantidade; no Reino Unido, até 60 euros", disse Díez.
Os custos energéticos também são cruciais para o setor de turismo, que é um dos maiores consumidores de energia e responde por 15% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Nesse contexto, a aviação comercial e o setor de cruzeiros se tornaram alvo de críticas de grupos ambientalistas.
Tais grupos também criticaram o alto consumo de água nos hotéis e nos campos de golfe. O tratamento da água também foi identificado como um grande problema. Em locais turísticos como a ilha de Maiorca, Ilhas Canárias ou Benidorm, ela precisa passar por um complexo tratamento até chegar às torneiras.
Muita energia é consumida nas aproximadamente 750 usinas de dessalinização, que bombeiam o sal de volta ao oceano, mudando assim a paisagem subaquática perto das costas.
O processo de retirada do excesso de sal, que vem sendo aplicado na Espanha desde 1964, abriu o caminho para o turismo de massa. Hoje, o país do sul europeu só está atrás da Arábia Saudita, EUA e os Emirados Árabes Unidos em termos de quantidade de água dessalinizada, de acordo com o grupo industrial espanhol Aedyr.
Essa água é usada na agricultura e em muitos campos de golfe, que podem ser vistos em partes secas do sul do país.
A Espanha não é apenas um polo turístico, mas um dos maiores exportadores mundiais de produtos agrícolas. Os agricultores também atraíram a ira dos ambientalistas, que os criticam por desperdiçarem muita água, usarem pesticidas e danificarem o solo por meio de sistemas de cultivo duvidosos, segundo explicou o engenheiro industrial madrileno Rafael Alvarez.
Alvarez também afirmou que o aumento do nível do mar é um grande problema para a Espanha. Ele disse estar convencido de que nos próximos anos muitas praias e campos serão inundados. Em todo o país, há uma crescente erosão do solo ao longo de milhares de quilômetros de costa.
Iñigo Losada, diretor de pesquisa do Instituto de Hidráulica Ambiental da Cantábria, advertiu que os proprietários de casas de veraneio e cadeias de hotéis vão sentir o aperto. O mergulho ficará menos atraente para os turistas, se os recifes de coral desaparecerem, argumentou Losada, e o perigo de áreas costeiras serem inundadas também não ajuda o turismo.
Os principais grupos turísticos espanhóis, como Meliá, Barceló, Iberostar e Riu estão se preparando para o pior. Meliá já questionou sobre como os hotéis nas regiões afetadas podem obter pacotes de seguro adequados.
Losada explicou que os proprietários de casas de veraneio na Espanha deveriam fazer o mesmo. "Não tenho como saber se vamos conseguir impedir a mudança climática", advertiu, apontando que, em sua opinião, algumas pessoas já deveriam se deslocar para um local seguro.
"Mas ninguém quer falar sobre essas coisas", disse Tim Wirth, um advogado imobiliário, que também trabalha em Maiorca. "Porque eles temem que isso possa levar as pessoas a entrarem em pânico."
Deutsche Welle
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