A população contribui para o bem-estar porque garante seu próprio conforto e reconhece que a severa repressão aos transgressores será sempre em prol da comunidade. Sabe reivindicar também medidas administrativas para ter acesso fácil ao trabalho, ao colégio dos filhos, à mercearia, à padaria, à farmácia e aos serviços de emergência.
Infelizmente, nada disso acontece no Brasil, porque a ocupação do espaço é destrambelhada, atendendo interesses escusos de proprietários de terrenos, ignorando os recursos naturais e optando por infraestrutura mais barata, portanto anacrônica e de má qualidade, como cabeamento aéreo de rede elétrica e telefonia, mesmo em áreas “nobres” das grandes cidades. Os programas de habitação popular são os mais ridículos, porque estão muito distantes dos locais de trabalho, o transporte público é um pesadelo, as edificações têm péssima qualidade, e faltam os equipamentos urbanos listados acima.
A mídia mostrou muitos problemas do Minha Casa, Minha Vida, em diferentes pontos do país, pois as construções estavam se desmanchando e o empreendimento foi insuficiente. Não há notícia de que favelas tenham sido extintas. Elas são denominadas agora de “aglomerados”, porque o alinhamento continua caótico, em terrenos inóspitos e moradias com diferentes tipos de material no lugar de paredes e teto. Algumas habitações receberam cozinha planejada, aparelhos eletrônicos e banheiros com porcelanato, mas o contraste com o asfalto mantém-se lamentável. Seria muito importante que uma pesquisa mostrasse o movimento migratório entre esses dois espaços: quantas famílias deixaram as favelas porque tiveram conquistas sociais, desde 2003, e quantas foram para lá, empurradas pelo desemprego e por dívidas impagáveis, diante da ilusão de que estavam aptas para o consumo de viagens de avião, carros em 60 parcelas e férias na praia?
Os brasileiros estão inseguros em qualquer lugar, mas o problema é maior para os deserdados da sorte tangidos para as favelas. Vivem sob o fogo cruzado de quadrilhas rivais, em habitações frágeis que podem ser varadas por projéteis de grosso calibre. Perdem também seus filhos para o aliciamento ao crime, por doenças próprias de ambientes miseráveis ou em desabamentos de casebres, mesmo quando não chove.
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