quinta-feira, 31 de agosto de 2017

'Privatização de Temer é vender o almoço para pagar o jantar'

A economista Monica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional e professora da Universidade Johns Hopkins, em Washington, chegou a experimentar um breve momento de otimismo cauteloso com a economia brasileira no início do Governo Michel Temer. Mas esse sentimento não durou nem seis meses. A discussão e a aprovação da emenda do teto dos gastos públicos acabou com qualquer boa expectativa. E, depois da revelação da investigação sobre a suposta trama de corrupção envolvendo Temer e o empresário Joesley Batista, sócio da JBS, ela passou a defender que o presidente devia renunciar ao mandato. Ex-diretora da Casa das Garças, tradicional reduto do pensamento econômico liberal no Brasil, De Bolle, mesmo favorável a privatizações, critica a proposta de Temer, que considera inoportuna. "Querem realmente vender ativos pra pagar o déficit primário? Estão vendendo o almoço pra pagar o jantar", afirma. Para a economista, as iniciativas ousadas e polêmicas de Temer são tentativas de "criar espuma" para agradar ao mercado. "Estão criando espuma desde o ano passado com todas as reformas e viram que criar espuma é bom, porque mudou expectativas. Então continuaram com a mesma tática", critica.

Resultado de imagem para privatização de temer charge
 Uma coisa que tem sido absolutamente marcante no Governo Temer é essa tendência de querer fazer grandes manchetes e grandes esperanças, mas no final das contas entregar algo muito aquém do prometido. Temer faz promessas grandiosas, esperando que vai transformar o Brasil em dois anos. Houve uma tentativa bem sucedida de reverter o processo inflacionário, talvez mais influenciado pela recessão do que outra coisa, mas ao menos o Banco Central deu sinalizações corretas e vemos alguma recuperaçãozinha no consumo por conta disso. Houve tentativas de dar o pontapé em reformas, não geraram grande coisa, mas foi um início. Teve uma mudança na administração da Petrobras e mudanças no marco regulatório do pré-sal que foram importantes. Mas, para além disso, o problema é que esse Governo tenta o tempo inteiro inflar manchete e no fim das contas entrega a rebimboca da parafuseta. O teto do gasto público é um pouco disso: foi anunciado como algo revolucionário, mas para ser funcional depende da reforma da Previdência que não vai ter. E o Governo Temer trata os seus críticos da mesma forma que Dilma tratava. Nesse aspecto, é muito parecido com o governo anterior. Como Temer tem pouco tempo pra entregar resultados, está fazendo tudo no afogadilho. Teto de gastos foi feito no afogadilho e agora privatizações são feitas no afogadilho. O princípio de fazer privatizações é inquestionável. Mas sair anunciando um listão de liquidação de não sei quantos ativos, só pra botar manchete gorda, e depois ter menos de um ano pra entregar não parece nem um pouco viável. Querem realmente vender ativos para pagar o déficit primário? Estão vendendo o almoço para pagar o jantar. É pra isso que querem fazer privatizações? A legitimidade é absolutamente questionável, porque vimos, na área fiscal, o Governo dizer e fazer coisas opostas. Temer teve que fazer o fisiologismo clássico do PMDB para conseguir se manter onde está. Sacrificou-se o ajuste fiscal no altar do Temer — o espetáculo da Câmara discutindo a denuncia contra ele foi exatamente isso. E se pegar a lista de ativos que vão ser privatizados, tem um monte de coisas que estavam na lista da Dilma. Muita coisa requentada.

Estão criando espuma desde o ano passado com todas as reformas e viram que criar espuma é bom, porque mudou expectativas. Deu certo. Então continuaram com a mesma tática 
Leia mais

Nenhum comentário:

Postar um comentário