Essa campanha, diga-se de passagem, está tendo lugar antes da data legal.
Estabelece a lei que a campanha eleitoral só poderá ter início em 16 de agosto de 2018, daqui a um ano, portanto. Mas, lei? O que significa a lei para quem acha que seu prestígio junto ao Vaticano e às massas oprimidas o tornam imune a ela?
Não que os resultados da procissão rodoviária de Lula estejam sendo extraordinários. Não estão. O povo vai para as ruas por curiosidade - ver o mito, nordestino como eles, o líder místico da política – ou arrebanhado pelos doadores de camisetas vermelhas, novas de estalar.
Só falta a confirmação de um milagre para que passe a haver peregrinação anual das massas a Caetés.
O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, do PSB, bem que tentou criar o ambiente milagreiro durante a passagem de Lula. É que atropelou o cronograma do fornecimento de água às torneiras de Campina Grande para fazê-lo coincidir com a chegada do ex-Presidente à cidade.
Padre Cícero foi idolatrado no Nordeste por conta de um milagre: a hóstia que deu em comunhão a uma freira teria se transformado em sangue na boca da religiosa.
Ajudou também a consolidar seu prestígio um sonho que teve com Jesus Cristo, que apontando para retirantes nordestinos ordenou a Ciço que tomasse conta deles. No seu trabalho pastoral agiu com austeridade, buscando moralizar os costumes, acabar com a mentira e as bebedeiras e ameaçando excomungar os ladrões e corruptos.
Se fosse para obter sua canonização, nesses itens Lula não passaria no exame da Cúria Romana, a não ser que cumprisse severa penitência.
Mas na política, se a trajetória de padre Cícero foi ascendente, num primeiro momento, acabou em desastre. Poucos sabem, o santo padroeiro foi filiado ao Partido Republicano Conservador, foi prefeito de Juazeiro e chegou a ser eleito deputado federal (mas não assumiu o cargo).
Foi um dos principais articuladores do chamado “Pacto dos Coronéis”, importante momento na história do coronelismo brasileiro (o que hoje nos traz à mente o recente encontro de Lula com Renan Calheiros). Foi eleito vice-governador do Ceará, mas politicamente chegou ao fim com a Revolução de 1930.
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