quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Contra o ódio, apenas política e diálogo permanente podem ter vez

Não me sinto nem um pouco à vontade para analisar o trabalho dedicado e incansável dos colegas da imprensa. Falta-me isenção, tanto para justificá-los (o que aconteceria sempre) quanto para criticá-los (o que jamais aconteceria). Digo isso, leitor, porque a imprensa pode errar no varejo, mas sempre acerta no atacado. Posso, porém, tratar o assunto como velho profissional que já viveu e viu muita coisa boa e ruim na política, mas que também vê nela e no diálogo permanente os únicos meios para a retomada segura e civilizada do bom caminho.

Em sua maioria (incluídos os jovens e os que estão prestes a alcançar a idade provecta), estão revoltados, e com total razão, com os acontecimentos políticos no país revelados por duas operações da Polícia Federal: uma, mais antiga, que ganhou o apelido de “mensalão”, e a outra, mais recente, cujo nome – Lava Jato – já diz tudo ou quase tudo. Nada tenho contra nenhuma das duas, nem contra o potencial de saneamento de ambas. Só que nenhuma delas, sozinha, retirará o país da que crise em que o metemos. Aliás, pela primeira vez, Rodrigo Janot falou em fim da Lava Jato: “O país”, afirmou, “não pode ficar eternamente refém da operação”.

Alvíssaras! Janot presta-nos outro bom serviço!

A operação Lava Jato merece menção especial. É como se o país fosse um, lá atrás, e hoje, depois das acusações que ela trouxe a nosso conhecimento, virou outro, sangrando por todos os lados. É que poucos lembram-se de que o país de ontem é muito parecido com o de hoje. FHC e Lula até que acenderam uma luz, mas ela logo se apagou. O sistema eleitoral que regeu e ainda rege as eleições nunca mudou. Adaptou-se à época. Na tentativa de passar a limpo o país, misturaram-se gregos e troianos. Por isso, ficou cada vez mais difícil separar o joio do trigo. A classe política tornou-se a única responsável por todos os erros.

Companheiro de geração, que se afastou das lides do jornalismo faz bastante tempo, também revoltado com nossos desvios no dia a dia, mas, sobretudo, com os graves crimes cometidos por políticos e empresários (e estes sempre se dizem – maldosa ou equivocadamente – vítimas dos primeiros), saiu-se com esta outro dia: “Recolhi-me ontem depois de assistir na televisão aos jornais da noite. Pela manhã, acordei com meu pulso a 300 por minuto. Não sei como não tive um infarto. Fui à padaria com meus fiéis seguidores, Márcio e Luíza, minha cadela de estimação, que fala corretamente a língua-pátria, mas os seres humanos, embora a ouçam, por enquanto não a compreendem... Comprei pão, tomei um cafezinho e apanhei meu jornal. As manchetes que estampava aceleraram ainda mais meu pulso. Elas poderão – falei para mim mesmo – levar qualquer pessoa ao suicídio. Se não surgir já liderança capaz de repor o país no caminho certo, o ódio, que vai tomando conta do povo brasileiro, alastrar-se-á como erva daninha e, com certeza, provocará violenta convulsão social. E, me dirigindo à sempre atenta Luíza, concluí: haverá dia em que os bons profissionais cederão às boas manchetes, mesmo correndo o risco de cair na mais profunda depressão”...

O ódio instala-se quando a gente não admite aceitar o outro como ele é. No início, é pura antipatia, mas logo se transforma no pior dos sentimentos humanos. Ele faz mais mal a quem o alimenta e, o que é pior, provoca a mais trágica das cegueiras – a do cego que não quer enxergar.

E é isso, infelizmente, o que hoje acontece no Brasil.

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