terça-feira, 18 de julho de 2017

Lá vamos de novo, como tolos?

No Brasil há debates repetitivos e cansativos. Um deles é o que opõe como extremos o desconjuntado governo Michel Temer e o de sua antecessora, de quem Temer era vice, Dilma Roussef.

Quem olhar o cenário do nosso passado recente sem paixão vai reparar que algumas propostas de política econômica de Joaquim Levy – notadamente o ajuste fiscal, o dogma do superávit primário, o corte de gastos e mesmo o discurso de “excesso de direitos” – não diferiam das de Meirelles (que, de resto, foi o homem forte da economia nas gestões Lula).

Muitas das figuras palacianas – e investigadas – de hoje tinham força também nos governos de Lula e Dilma, como Moreira Franco, Geddel, Padilha e Jucá, entre outros. É o PMDB realizando sua vocação de estar sempre no poder.


A propósito do derrame de recursos públicos através do empenho de emendas parlamentares para salvar Temer na CCJ, um deputado da base, Fausto Pinatto (PP/SP), foi franco: “liberar emendas para quem apoia o governo é correto, tanto que o PSDB e o PT também fizeram”.

Daí que, ao invés de visão de mundo, projeto de país, plano de governo e modo de fazer política, a peleja parlamentar tem se dado em torno de quem roubou menos (ou mais). Na areia movediça do compromisso com a ética pública, a contenda entre os governantes atuais e pretéritos confirma o dito popular: “em casa onde falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão”.

Nos discursos da tribuna do Congresso Nacional trava-se uma “olimpíada da corrupção”, em torno de quem afanou mais (ou menos): privataria X mensalão, trensalão X petrolão... Um maniqueísmo superficial que cansa, por inautêntico.

Nessa toada do sujo falando do mal lavado, o PSOL reafirma seu repúdio tanto ao velho “rouba mas faz” quanto ao “rouba mas é pela causa” ou ao “rouba mas toca o que o mercado quer”.

Para nós, a superação da corrupção sistêmica e estrutural, também arraigada no hábito cotidiano do “levar vantagem em tudo”, pressupõe uma verdadeira revolução social. Ela passa por uma profunda reforma do Estado, pela radical transformação do modelo político e por um novo padrão de política econômica, a começar por uma reforma tributária progressiva. Ela exige uma nova cultura, desde as famílias e os bancos escolares, com viés solidário e fraterno.

O Brasil existe além de sua casta política e do atual condomínio do poder.

Para quem não quer ficar na cômoda zona de conforto do desencanto, do “não tem jeito, pois são todos iguais”, recomendo o que movimentos sociais e especialistas independentes já elaboraram, na generosa perspectiva de buscar saídas para a crise nacional de sentido e de destino.

Há uma fecunda riqueza de propostas para Reforma Urbana, Agrária, Política, Tributária. E de Democratização da Comunicação, Auditoria da Dívida e Combate à Corrupção. Está também em curso uma Campanha Nacional pela Redução da Desigualdade Social. Tudo ao alcance de um clique, para conhecimento.

Tudo realizável não por mágica, mas por uma mobilização popular consciente e organizada, partindo da base. Sem isso, as mudanças pelas quais tanto se clama serão só de aparência, para que, na essência, tudo continue como está.

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