terça-feira, 20 de junho de 2017

A gangsterização da política

Um empresário ‘dois em um’ – assumidamente corrompido e corruptor – está revelando em detalhes a gangsterização da política no Brasil. Sua metralhadora giratória, que dispara verdades documentadas e mentiras discursivas, evidencia um esquema criminoso de favorecimentos e propinas em “estados, ministérios, fundos de pensão, bancos e BNDES”. Joesley Batista garante que “o estado brasileiro está dominado por organizações criminosas, muitas das quais participamos e tivemos que financiar”. Mais direto impossível. Joesley JBS assegura que tudo o que diz está comprovado no Ministério Público.

Haveria um desdobramento natural desse tsunami político: os acusados que juram inocência deveriam processar o empresário por calúnia, de imediato, como Temer faz agora. Mas é estranhíssimo que não o tenha feito antes, quando da revelação da sua conversinha com Joesley na calada da noite do Jaburu, há três meses. Aliás, é também inusitado que ele tenha recebido com presteza quem considera um “bandido notório”. O fato do dono da holding J&S ter o “maior sucesso na história brasileira” abre portas palacianas?

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Joesley também deve, diante das ações que sofrerá, pleitear a “exceção da verdade”, pela qual poderá provar as acusações que fez, inclusive solicitando a quebra de sigilo dos que o processam, para confirmar a veracidade de suas afirmações.

Por óbvio, a Câmara dos Deputados, em recebendo o pedido de investigação sobre o presidente da República, fica na obrigação de autorizá-lo. Quem não aprovar essa medida elementar, por omissão (fugindo da votação) ou voto contrário, terá seu nome parlamentar carimbado como leniente com o acobertamento de denúncias gravíssimas que enlameiam a República. Quem alardeia honestidade não devia ficar em apuros. Teria que aceitar e mesmo desejar a apuração de tudo.

O que dá mais concretude à trágica gangsterização da política é a atitude dos partidos que têm parlamentares e dirigentes investigados ou réus. Via de regra, fazem “cara de paisagem”. Todos têm princípios éticos em seus estatutos e comissões para zelar por eles. O PP, com 38 parlamentares na Lava-Jato, a começar pelo seu presidente, senador Ciro Nogueira (PI), não se coçou.

O PT, com 25 e também com sua presidente nessa situação, abriu procedimentos contra André Vargas (PR) e Delcídio do Amaral (MS), que se desfiliaram. Sobre os “desvios”, como reconhecido por diversos sinceros militantes, não fez qualquer autocrítica.

O PMDB, com 22 na Lava-Jato e atingido fortemente pela delação da JBS, assumiu sem pudores o que seu presidente, o também investigado senador Jucá (RR), propôs: “estancar a sangria”, abafar tudo.

E o PSDB, até aqui com 13 mandatários denunciados, em especial seu presidente licenciado, senador Aécio Neves (MG), não toma outra providência senão a de proteger seus atingidos. Talvez venha argumentar que ainda não elaborou seu Código de Ética...

Esse silêncio partidário é revelador de que a corrupção que praticaram não era uma conduta inadequada de A ou B, mas algo derivado do próprio modus operandi da agremiação. Com raras exceções, elas adotaram servidão voluntária ao poder dissolvente do dinheiro.

Chico Alencar

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