terça-feira, 20 de junho de 2017

À espera do fato novo

O ex-deputado Ulysses Guimarães, presidente nos anos 80 do século passado do PMDB, da Câmara e da Assembleia Nacional Constituinte, costumava chamar de “Vossa Excelência” o fato político relevante. "Com a palavra, Vossa Excelência, o Fato", dizia Ulysses. E ensinava:

- O fato é tão ou mais importante do que qualquer autoridade que mereça ser chamada de Vossa Excelência. Um fato só pode ser revogado por um fato novo. Que, por sua vez, só pode ser revogado por um fato consumado.

No momento, “Sua Excelência, O Fato” é o estado de fraqueza de Michel Temer atingido há mais de um mês pela delação do empresário Joesley Batista, dono do Grupo JBS, e a gravação da conversa travada entre os dois no porão do Palácio do Jaburu, em Brasília.


Temer sangra desde então, e só se mantém no cargo porque a crise econômica descolou-se da crise política, e nenhum partido se considera apto para enfrentar a eleição repentina de um novo presidente. Todos os partidos, inclusiva o PT, preferem eleição em 2017, como manda a lei.

Isso não significa, todavia, que Temer completará o mandato herdado de Dilma ou subtraído dela. Um fato novo não só pode revogar o fato anterior, como também agravá-lo. E é à espera de um novo fato que a República tem respirado nas últimas semanas, e respirará as próximas.

Só quem tem conhecimento prévio das cartas a serem postas na mesa são a Polícia Federal e o Ministério Público. Quem mais participa do jogo fica no escuro até o surgimento das primeiras pistas sobre as cartas que receberá. Aí mal dá tempo para refletir sobre o que fazer em seguida.

Derrubar Dilma foi tarefa mais fácil do que derrubar Temer. Primeiro porque ela afundou o país na maior recessão econômica de sua história. Segundo porque perdeu o apoio do Congresso. Terceiro porque a crise econômica e a política caminhavam juntas.

Por menos que tenha melhorado, a situação econômica melhorou. Entre os aspirantes à sucessão de Temer, nenhum dá sinais de que pretenda dar uma guinada de 180 graus na condução da atual política econômica. Se Temer cair amanhã, o ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, não cairá.

O chamado “mercado” já se convenceu disso. Portanto, para ele, que muito importa nas decisões dos políticos, não fará diferença se Temer ficar ou se sair. Ninguém alimenta mais esperança de que as reformas avancem como se desejava. Poderão ficar para depois.

A sorte de Temer, pois, só depende dele. Somente ele sabe o que fez ou o que deixou de fazer, o que está para ser descoberto e o que jamais será. Os dias por vir serão assim.

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