Vejam, por exemplo, o que ocorreu depois que Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), deu o voto decisivo para que José Dirceu, um dos principais líderes do PT, fosse solto. Até então, o ministro era visto como o diabo por petistas e demais apoiadores de Dirceu. A forma agressiva como essas pessoas se dirigiam a Gilmar impressionava pelo rancor. O ministro era taxado como o grande defensor do PSDB e o algoz do PT.
Essas mesmas pessoas passaram a idolatrar o senador Renan Calheiros, que, por interesses próprios e não pelo bem do país, assumiu um papel “patriótico” contra as reformas trabalhistas e da Previdência Social. Quantas vezes vi os atuais defensores de Renan bradando contra ele palavras fortíssimas, a mais leve delas, oportunista. Mas para que se apegar aos defeitos do senador alagoano se, agora, ele está difundindo o discurso que todos querem ouvir?
Coerência faz bem ao país. Ninguém aqui está defendendo ideias e pensamentos únicos. Muito pelo contrário. O contraditório é fundamental para o debate e o fortalecimento da democracia. O que não dá para suportar é ver a conveniência sendo usada de acordo com os interesses pessoais ou para reforçar posições políticas. Isso não é honesto. É vergonhoso.
Os mesmos que, agora, têm Gilmar Mendes e Renan Calheiros como ídolos, se recolheram depois das revelações bombásticas feitas por Renato Duque, o ex-homem-forte do PT na Petrobras. Por conveniência, saíram temporariamente do debate porque ficaram sem argumentos diante da confirmação do ex-diretor da estatal de que o chefe do maior esquema de corrupção da história era o ex-presidente Lula, ou “Nine”, para os íntimos.
É estarrecedor ver, a cada depoimento de envolvidos na roubalheira da Petrobras, a confirmação de todos os fatos. Independentemente da posição que cada um exercia na quadrilha que saqueou a empresa, as revelações são sempre as mesmas, com um ou outro detalhe diferente, mas complementar. São tantas as acusações contra os mesmos personagens que não há mais o que questionar.
Cabe, portanto, à Justiça ser enérgica nas punições. Não há por que protelar mais as prisões de citados pelos delatores. Há uma ansiedade crescente na sociedade, que começa a ser tomada pela descrença. A cada movimento contra a Operação Lava-Jato só aumenta a sensação de impunidade que atormenta o país. Não podemos perder essa oportunidade única para passarmos o Brasil a limpo.
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