Mais contundente é o consultor em transformação digital e inovação, o hispano-alemão Alex Preukschat. “A tecnologia blockchain, em combinação com outras tecnologias, como a internet das coisas, a inteligência artificial, o big data, os drones ou a biotecnologia, vai refazer o mundo tal como o conhecemos, muito mais rápido do que tem sido nos últimos anos, como parte da quarta revolução industrial.”
Em conclusão: Não apenas estamos em meio a uma reestruturação brutal, como também é a mais rápida da história. A questão que se coloca nesta situação é: esta mudança vai ser para melhor ou para pior?
Como acontecia no romance de Umberto Eco, estamos diante de apocalípticos e integrados, especialistas que preveem um universo distópico, mescla de 1984 e Matrix,governado pelo desemprego em massa, que parecem ser maioria. E outros que preveem uma sociedade mais transparente e descentralizada, na qual a informação flui e onde os robôs farão o trabalho tedioso em nosso lugar.
O historiador israelense Yuval Noah Harari, nascido em 1976, faz parte do primeiro grupo. Não acredita que acabaremos como em Matrix, mas argumenta em livros como Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã que,enquanto a profusão de tecnologia tem conseguido que a humanidade melhore em coisas como a fome e as doenças, as ideias fundamentais das democracias liberais correm perigo de se tornar obsoletas em um mundo de ciborgues e inteligência artificial. Nada de descentralização em sua opinião: as grandes corporações conhecerão os indivíduos nos mínimos detalhes, e algumas pessoas monopolizarão o poder econômico e político, os algoritmos e a tecnologia, para criar classes biológicas.
A eliminação de postos de trabalho é outro mantra dos apocalípticos. Carl Benedikt Frey, pesquisador da Universidade de Oxford, realizou há pouco mais de um ano um estudo que viralizou rapidamente, no qual argumentava que 47% dos postos de trabalho correm risco de desaparecer. Na mesma linha anunciada por nada menos do que o Fórum Econômico Mundial. No ano passado, um relatório apresentado em Davos afirmava que a digitalização da indústria resultará no desaparecimento de 7,1 milhões de empregos e na criação de outros 2,1 milhões em 2020. Um pouco de matemática: serão cinco milhões de empregos líquidos a menos.
O ferrenho integrado Manish Sharma, diretor de operações da Accenture Operations, tem uma visão diferente. Em sua opinião, “as pessoas fazem trabalhos chatos porque esses são os empregos que lhe são oferecidos”, afirma. “A automação dos processos proporcionará uma vida melhor para as pessoas”.
O economista José Moisés Martín Carretero, autor de España 2030: Gobernar el Futuro, compartilha a visão de Sharma: “O progresso tecnológico tem deslocado trabalhadores, mas criado muito mais empregos”, afirma. “No curto prazo, pode haver reduções, mas, no longo prazo, a criação de empregos é inquestionável”.
O dinamarquês Erik Brynjolfsson e o norte-americano Andrew McAffee, cofundadores do departamento de Economia Digital do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), lançaram em 2011 o livro Race Against the Machine(Corrida Contra a Máquina, MIT, 2011). A obra explica como atividades que, até recentemente, eram reservadas para os seres humanos já são território para as máquinas. E a mudança é vista como algo positivo. “A economia mundial está na cúspide de um período de crescimento espetacular, impulsionada por máquinas inteligentes que aproveitarão ao máximo os avanços no processamento por computadores, pela inteligência artificial, pela comunicação em rede e pela digitalização de quase tudo.”
Isso, claro, sempre que estejamos de acordo de que ter um trabalho é sinônimo de ser feliz.
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