Fui amigo de Ivan Lessa (1935-2012) por 40 anos e tínhamos várias fixações em comum: baixos profundos como Billy Eckstine, Al Hibbler e Herb Jeffries, artigos de Kenneth Tynan, filmes com Maria Montez e Sabu. Nossa única discordância se devia à sua mania de chamar o Brasil de “Bananão”. Eu achava a classificação injusta – não que o Brasil não fizesse por merecer, mas porque não se aplicava tecnicamente.
O termo “República das bananas” foi criado em 1904 pelo contista americano O. Henry, que se refugiou numa delas para fugir à polícia de seu país. A dita república era Honduras, com seus espessos bananais, mas o epíteto definia também o Panamá, Cuba, Haiti, a Nicarágua e a República Dominicana, todos dominados pela United Fruit por volta de 1900. O presidente Teddy Roosevelt (1901-09) gostou da expressão e decretou que os EUA tinham o direito de intervir nas “Repúblicas das bananas” quando quisessem.
O Brasil, por produzir café, ficou meio a salvo dessa categoria. Além disso, os EUA nunca se meteram a bestas conosco — não ostensivamente. Depois, diversificamos a produção e até nos industrializamos. Mas Ivan não se convencia. De sua janela em Bolton Gardens, Londres, onde passou seus últimos 34 anos, continuou a nos ver como o “Bananão”.
Mas eu estava certo, e a Lava Jato tem provado isso a todo instante no noticiário. A cada corrupto ou corruptor exposto nas investigações, surgem dezenas, centenas de “laranjas”, que emprestaram seus nomes ou empresas — amigos, filhos, cunhados, mulheres, ex-mulheres, caseiros, faxineiras, gráficas, oficinas, borracharias, “consultorias” e o que for, todos fantasmas, sem falar num certo lava-jato em Brasília —, pelos quais escoaram bilhões em propinas, caixas dois, “palestras”, imóveis, joias.
“Bananão”? Não. Um fértil e imenso laranjal.
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