As maldades vão sendo feitas todas de uma vez para que, sentindo-se-lhes menos o gosto, ofendam menos; os alívios vão sendo anunciados a conta gotas para se realizarem num futuro incerto, na ceia de Natal talvez, “neste momento de solidariedade entre patrões e empregados”.
O Estado está restituindo generosamente aos grupos econômicos a força que deles recebeu: os interesses do capital coincidem agora com os interesses do governo central.
O assalto é geral. E o risco é enorme.
Aprova-se, a toque de caixa, a devolução dos bens reversíveis da União à indústria de telecomunicação que implicará numa tunga de R$ 100 bilhões, mais que Lava-Jato e mensalão juntos.
Equipara-se a mulher ao homem apenas para o efeito cruel da aposentadoria impossível. Impossível até porque ninguém mais se interessará em contribuir para a previdência oficial, optando pelo trabalho informal ou por regar a horta fértil da previdência privada.
Libera-se o acesso do trabalhador à sua conta do FGTS, que parece ter-se transformado em cartório de proteção da indústria da construção. A mini reforma trabalhista é presente de Natal.
Na reforma política, outro avanço de primeiro mundo: acena-se acabar com o voto obrigatório.
A unidade política é frágil. A Federação está falida. Já, já virão a anarquia e os calotes, campo propício para o ressurgimento dos movimentos separatistas e para manobras dos espertalhões de ocasião.
Não há nada de novo neste resumo; apenas a oportunidade. É todo inspirado no velho Maquiavel, aquele cuja obra – O Príncipe – todos odiaram por 500 anos. Os ricos pelo medo de perderem a riqueza, os pobres pelo medo de perderem a liberdade, os religiosos pela heresia, os bons pela desonestidade, os maus pela maldade ainda maior.
Ouçamos Nicolau: “O que ascende ao principado com a ajuda dos poderosos se mantém com mais dificuldade do que aquele que é eleito pelo povo. São seus inimigos todos os que se sentem ofendidos pelo fato de ocupar o principado. O povo deve ser mimado ou exterminado, pois, se se vingam de ofensas leves, das graves já não podem fazê-lo”.
Eduardo Simbalista
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