sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Álbum de figuraças

Na quarta-feira última, falei de como uma enciclopédia da corrupção brasileira preencheria uma lacuna no nosso mercado editorial. Sua produção exigiria uma equipe de redatores versados em leis criminais, técnicas contábeis e relações internacionais, mas, até aí, tudo bem. O problema é que, entre o término da preparação dos verbetes e a ida do original para a gráfica, tantos novos tipos de corrupção seriam descobertos que a enciclopédia, por mais ampla, nunca se poderia dizer completa.

Um leitor acaba de sugerir coisa melhor: um álbum de figurinhas – como esses sobre futebol que os garotos colecionam na Copa do Mundo. E nas mesmas condições: o álbum é grátis e as figurinhas, em pacotinhos de cinco, são compradas no jornaleiro. Sua vantagem é que, embora a corrupção sempre se renove, os corruptos tendem a ser os mesmos, entra ano, sai ano, e todos sabemos quais são.

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O álbum teria cerca de 400 figurinhas, comportando os políticos, de qualquer partido, que respondam hoje a processo em alguma instância. Se tomarmos por base que o Congresso tem cerca de 300 picaretas — cálculo do então candidato Lula, antes de se aliar a eles na Presidência —, ainda teremos 100 figurinhas para contemplar ex-tesoureiros de partidos, ex-marqueteiros de campanha, ex-diretores de estatais, ex-funcionários de empreiteiras e outros ex, muitos atualmente cumprindo sentença, sem prejuízo dos ainda à solta.

Algumas figurinhas viriam carimbadas, mas só por uma questão de respeito — imagine quais. Outras, aleatoriamente, seriam mais "difíceis" — um Bumlai, por exemplo, valeria pelo menos cinco Dirceus num troca-troca. E virar um Renan num bafo-bafo seria a glória.

Comercialmente falando, o álbum de figurinhas dos corruptos teria tudo para estourar. Até os adultos iriam querer colecionar.

Ruy Castro

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