sábado, 13 de agosto de 2016

O dia seguinte do PT

O PT já dá o impeachment como fato consumado. Planeja e discute agora, internamente, o seu day after, o rescaldo dos escombros. O desafio é sobreviver, eleitoral e judicialmente.

O presidente do TSE, Gilmar Mendes, determinou esta semana a abertura do processo que poderá cassar o registro do partido, envolvido em múltiplas falcatruas, parcialmente mapeadas pela Lava Jato. A defesa não será jurídica, até porque tem contra si os fatos e a lei, mas política. O partido não desistiu da teoria do golpe.

Dilma está perdida, mas o partido ainda crê na mística de Lula, na possibilidade de transformar sua iminente prisão num grande happening político, que mobilize a militância residual, os movimentos sociais e o transmute de prisioneiro comum em perseguido político.

Tudo, segundo os estrategistas do petismo, depende da aplicação engenhosa de uma palavra que, mais que clichê, tornou-se instrumento eficaz de propaganda política: a narrativa.

Não importam os fatos, mas a versão. Se os fatos não coincidem com a narrativa – e raramente isso se dá -, pior para os fatos, diria Nélson Rodrigues.


Essa estratégia explica a obstinada veemência, quase histérica em alguns momentos, da bancada de senadores petistas e adjacentes. Defendem Dilma não de olho em sua absolvição, em que não creem, mas no documentário cinematográfico, em preparo, sob a direção da cineasta Anna Muylaert, focado no afastamento de Dilma.

Com ele, pretendem fazer do limão da derrota a limonada da revanche. Não se deve subestimá-los: de propaganda, os petistas entendem. Forjaram-se nela e com ela chegaram ao poder, convencendo a muita gente de que promoveram a redenção social do país, não obstante terem deixado em seu rastro um vasto contingente de 12 milhões de desempregados, as contas públicas em ruínas e os cárceres de Curitiba superlotados.

Detalhes, nada que um bom roteiro não possa alterar, numa edição cuidadosa, que explore e vitimize as expressões dramáticas do ocaso de Lula e Dilma e transfigure seus oponentes em carrascos. Não faltam imagens, cenas de embates em manifestações públicas, material para forjar a narrativa que se quiser, bem longe dos fatos e de seus contextos.

Esse material, levado a festivais nacionais e internacionais de cinema – e posteriormente veiculado nas redes sociais -, será apresentado como a “prova” do golpe, da truculência da elite e da direita, inconformadas com o projeto social do PT, que (segundo essa narrativa) deu voz e vez aos pobres.

Pouco importa o fato, documentado por órgãos governamentais ainda na vigência do governo Dilma, de que os pobres continuam tão pobres quanto antes, acrescidos agora dos desempregados da classe média, que se contam aos milhões.

Se tal narrativa encontra pouco trânsito e verossimilhança quando apenas verbalizada, adquire efeito bem mais convincente quando acrescida de imagens em movimento.

A estratégia explora as inevitáveis dificuldades do governo Temer em lidar com a crise que herdou.

O PT, arquiteto da catástrofe, tentará reverter sua autoria, acusando os que o sucedem – e tentam consertar o estrago – de tê-la engendrado. Creem na onipotência e veracidade do dito de Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler, segundo quem uma mentira repetida à exaustão vira verdade. O PT, aliás, é prova disso.

O teste inicial dessa estratégia será a prisão de Lula, que o partido dá como certa, na sequência, ou mesmo antes, da consumação do impeachment. Aposta-se na sobrevivência do mito, na condição que ainda teria de sacudir o povão, mobilizado pela militância treinada, oriunda da burguesia universitária e sindical.

Aposta-se, sobretudo, nas dificuldades do governo Temer de proporcionar a curto prazo resultados que sejam sentidos no bolso da população. Essa aposta, ao menos, faz sentido. A crise, nesta primeira etapa, como o próprio Temer já avisou, oferecerá remédios amargos e impopulares – e resultados lentos.

Antes de melhorar, o país pode até piorar, dado o espectro político de que dispõe, em grande parte ex-parceiros da era petista.

O PT, com sua propaganda, quer convencer o público que a culpa de tudo não é de sua passagem pelo governo, mas de sua saída. Aposta, mais uma vez, na burrice da população.

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