Na fotografia sem retoques de Beto Barata, que vejo publicada pelo portal G1 , o presidente interino Michel Temer (PMDB) exibe seu sombrio e indecifrável ar de sempre. Está sentado na cadeira de comando do palco da cerimônia, ao centro de uma fileira de ministros de seu governo e de um convidado especial. Do lado direito do mandatário, o Chefe da Casa Civil, Eliseo Padilha, novo “faz tudo” da corte. À esquerda, o presidente do Senado, Renan Calheiros, parece dizer: “com impeachment ou não, e mesmo que o São Francisco não desaguasse em Alagoas, eu estaria aqui”.
Antes da canetada presidencial, os arautos da vez, no poder, trombeteiam que o plano (saído do forno palaciano às vésperas do começo da campanha para as eleições municipais deste ano), prevê que serão distribuídos R$ 1,1 bilhão, nos próximos três anos, entre 217 municípios. Do total de investimentos previstos, R$ 805 milhões devem ir para a construção de sistemas de esgotamentos sanitários em 137 cidades ribeirinhas. Outros R$ 356,9 milhões deverão ser repassados para custear obras de abastecimento de água em mais 80 municípios. A chamada bacia hidrográfica do rio é formada por 505 municípios, onde atualmente vivem 16,5 milhões de pessoas.
Sob os olhos atentos e o riso meio zombeteiro, no canto dos lábios, do senador Calheiros, o presidente Michel Temer discursa entre amigos e aliados, durante a cerimônia palaciana, e parece que nada mudou. Ao melhor estilo da mandatária afastada – a um passo do impeachment – Temer diz que "a revitalização do São Francisco ajudará a preservar a vida humana, a vida animal e a vida vegetal. E registro aqui uma satisfação extraordinária ao lançarmos esse programa com o título que torna o Velho Chico o Novo Chico... Um Novo Chico cheio de vida para um novo Brasil”.
É preciso reconhecer: a afastada presidente petista Dilma Rousseff; o ex, também do PT, Luís Inácio Lula da Silva, (na vida real, como diz o meu irmão Genival); o coronel Saruê e seu genro deputado, (personagens da novela das nove, na TV) não teriam feito melhor. Nem mesmo o ex-ministro Delfim Neto, quando na sua melhor forma, no começo da gestão ditatorial do general João Batista Figueiredo, lançou o programa “Plante que o governo garante”: Mandou o agricultor plantar cebola, nas margens do rio, com garantia de compra da safra a bons e justos preços. Veio uma supersafra, o Governo de João não garantiu nada, e os lavradores foram levados a lançar cargas de cebola no leito do rio, ou a tocar fogo nas plantaç&oti lde;es, liberando terrenos férteis e irrigados na área onde surgiria, no ano seguinte, um dos maiores polos de plantação de “cannabis sativa” do País, no chamado Polígono da Maconha, entre a Bahia e Pernambuco.
Ninguém me contou. Eu sou de lá. Eu estava lá. Eu vi. E narrei vários episódios em reportagens que fiz para o Jornal do Brasil, na época.
Em junho do ano passado, a propósito das manifestações do Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco, escrevi um texto, neste espaço, com o título “Velho Chico: Jeito PT- Lula de governar e o rio que definha”. Peço licença aos leitores para reproduzir um trecho, antes do ponto final:
“Em 2004/05, período das vacas gordas, do primeiro mandato do governo petista (e de pesquisas de aprovação popular que só faziam crescer), com dinheiro de órgãos públicos de financiamento e de estatais "dando sopa", para bancar todo tipo de megalomania aventureira, Lula decidiu bancar, de fato, a transposição.
Para encurtar esta história, que é longa e tem passagens impróprias para menores: no começo da execução do projeto, as obras foram orçadas em R$ 4,8 bilhões (2007). Atualmente pulou para R$ 8, 2 bilhões. Reajustes contratuais, em geral destinados a atender aos apetites insaciáveis de grandes empreiteiras, aumentaram em 30% o custo inicial, entre 2007 e 2012. Mas contribuiu decisivamente, no Nordeste, para o marketing eleitoral na conquista do segundo mandato de Lula e nas votações avassaladoras de Dilma no primeiro mandato e na reeleição recente.” Em favor do rio e da sua gente mais necessitada, até agora nada.
Mais não digo, nem precisa. Só peço julgamento severo, e o castigo mais duro, para todos os responsáveis e culpados, por ação ou omissão, pela morte, que parece inexorável, do Velho e do Novo Chico, o amado e generoso rio da minha aldeia.
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