quinta-feira, 4 de agosto de 2016

'Novo mundo', mas não para os pobres

O legado da Rio 2016 trará poucos benefícios para a população mais carente - esse é o tom de diversas reportagens críticas sobre a Rio 2016 que circulam na imprensa internacional nesta terça-feira.

Já um outro artigo sobre os "brasilionários" olha para um lado menos conhecido das obras realizadas no contexto dos Jogos: a relação entre as empreiteiras e as poderosas famílias que as controlam e os recentes escândalos de corrupção.

O britânico Guardian dedica a capa de seu caderno 2 a uma coletânea de diários escritos ao longo de um ano por três jovens moradores das favelas do Alemão, Rocinha e Maré. Uma das frases destacadas é: "Espero que os Jogos Olímpicos terminem logo, porque o único legado será a repressão, a militarização e a guerra."

Em seus textos, os jovens relatam um cotidiano de violência, mortes nas mãos de policiais e traficantes, negligência e abandono.

No site da rede de TV americana ABC, uma reportagem dá voz a ativistas de direitos humanos segundo os quais a proximidade dos Jogos trouxe um "aumento alarmante" no número de mortos pela polícia carioca.

Para a organização Anistia Internacional, os policiais estão fazendo uma "limpeza" antes do evento que colocará a capital fluminense sob os holofotes do mundo nas próximas semanas.

Citando uma reportagem da BBC no ano passado, a rede ABC observa que associações de policiais também apontam para o alto número de policiais mortos.

O também americano Washington Post traz uma reportagem sobre as 20 famílias que obtiveram o direito de permanecer no local da antiga Vila Autódromo, favela destruída para dar lugar ao Parque Olímpico na Barra da Tijuca.

"O slogan da Rio 2016 é Um Novo Mundo. Mas do lado de fora do Parque Olímpico, esse novo mundo não tem lugar para os pobres", escreve o correspondente do jornal, citando um morador.

Autoridades ouvidas em anonimato pelo repórter dizem que as 800 famílias relocadas tiveram opção de se mudar para moradias sociais, mas os entrevistados pela matéria alegam ter sido intimidados.
'Brasilionários'

Já os leitores do britânico Daily Telegraph foram apresentados a outro lado da Olímpiada pouco conhecido do público estrangeiro: os "ultrarricos" por trás de "escândalos olímpicos" e que "dominam o Rio".

A reportagem traça o histórico de famílias detentoras de empreiteiras, como Odebrecht e Camargo Corrêa, enfatizando seu papel nos atuais escândalos de corrupção e conectando os benefícios que obtiveram desde a ditadura militar até os dias atuais - inclusive durante o governo petista de esquerda.

"Assim como a Copa do Mundo de 2014, os Jogos Olímpicos se encaixam em uma abordagem pragmática de desenvolvimento", escreve o repórter Alex Cuadros, autor de um livro sobre os bilionários brasileiros.

"Os dois eventos tinham a cara de prêmios políticos, permitindo ao PT distribuir fundos entre seus aliados e ao mesmo tempo criar transporte público para o cidadão comum."

"À medida que a economia se deteriorava e o dinheiro se esgotava, porém, os bilhões de dólares gastos em infra-estrutura esportiva terminaram beneficiando empresários e líderes políticos bem-conectados acima de tudo."

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