segunda-feira, 13 de junho de 2016

A Hidra de Lerna

Ainda não se produziram os tão desejados efeitos que a sociedade esperava com a mudança do timoneiro no Planalto; entusiasmos à parte, o presidente interino Michel Temer luta com as mesmas dificuldades que sua antecessora para alinhar um caminho que possa criar uma perspectiva real de transformação do desgoverno, do marasmo e que resgate o Brasil da “vil e apagada tristeza” em que ele foi mergulhado”, especialmente nesse último mandato de Dilma Rousseff. Se os três governos do PT à frente da Presidência da República foram vendidos (e comprados pelos eleitores) como um projeto de transformação social do Brasil, a inabilidade política e a incompetência de Dilma foram o bastante para, devidamente conjugadas, motivar seu impeachment. Os argumentos jurídicos do processo que a afastou, em discussão no Senado, estão longe do entendimento dos cidadãos comuns, os mesmos que bateram panelas e se vestiram de bandeira nacional para gritar nas ruas o “fora, Dilma”. O desemprego, a fome, o retrocesso econômico despacharam Dilma. Temer está tentando costurar ações que possam significar algum avanço, em especial da economia, mas na antessala estão os partidos da sua base de apoio com goelas larguíssimas, a inflexibilidade e a vigilância incansáveis de Sergio Moro, Rodrigo Janot e da Polícia Federal.

Nessa semana convivemos com a perplexidade do STF e da PGR pelo vazamento de trechos de delações premiadas e até dos pedidos de prisão de nomes até então de prestígio no poder de Brasília: Sarney, Collor, Renan, Jucá e Eduardo Cunha já se acham com as medidas tiradas para receber aquele uniforme listrado da penitenciária. Na verdade, a família Eduardo Cunha, em ala especial para mulher e filha, aquelas que gastaram a bagatela de U$ 1 milhão comprando sapatos e bolsas na Europa, quantia retirada de uma conta na Suíça que não é dele; é do Tesouro Nacional, é do povo brasileiro.

Fora dessa mixórdia, o povo sacode nas ruas apelos de “fora, Temer”, “Eleições já”. Na mitologia grega se destaca a figura da Hidra de Lerna, monstro com corpo de Dragão e três cabeças de serpente; quando atacada em uma de suas cabeças, dela surgiam outras duas, com igual poder letal, que a fazia vitoriosa diante de seus combatentes. Custou a Héracles (o Hércules da mitologia romana) duas batalhas para conseguir matá-la. De Brasília, hoje, se poderia dizer o mesmo. Lá vive Hidra de Lerna, com suas infindáveis cabeças. Saiu Dilma, entrou Temer. Saiu Cunha, veio Maranhão. Espera-se para os próximos dias que, da lavra do ministro Teori Zavascki, surjam novidades em relação a algumas cabeças; não teremos resolvidos nossos problemas, mas o Brasil amanhecerá melhor. Bater por novas eleições, hoje, sem o êxito de Héracles, o risco ‘ser-nos-á’ o império da Hidra. Infelizmente, faltam-nos nomes de boas cabeças, confiáveis e de bons compromissos.

Faltam-nos estadistas, não bandidos com prontuário policial.

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