quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Por que os recursos do pré-sal estão frustrando o setor da educação

Em setembro de 2013, a presidente Dilma Rousseff assinou a lei que destina a maior parte dos recursos dos royalties do pré-sal à educação num momento de grandes expectativas: a economia brasileira ainda vivia tempos de otimismo e o petróleo era cotado internacionalmente a US$ 110 o barril.

A lei determinou que 75% dos royalties do petróleo e 50% do chamado Fundo Social do Pré-Sal sejam destinados à educação - uma espécie de poupança feita com parte dos recursos originários da exploração petrolífera do país, paga ao Estado brasileiro pelas empresas que exploram esse recurso.

Na ocasião, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, declarou que os royalties trariam a receita "mais promissora do Estado brasileiro". E Dilma lembrou que se tratava de "darmos um salto de qualidade de ensino no Brasil e em todas as atividades, da criação científica até a economia".

Passados pouco mais de dois anos, porém, o cenário é bem menos otimista: o preço internacional do petróleo vem despencando e, nesta segunda-feira, o barril foi cotado a US$ 28, valor mais baixo em 12 anos.

Isso significa que, a cada barril extraído, será substancialmente menor a receita de royalties obtida pelo governo brasileiro.

Segundo cálculos feitos até setembro pela consultoria legislativa da Câmara dos Deputados, de uma previsão orçamentária inicial de R$ 6 bilhões vindos de royalties para a educação, o país havia conseguido aplicar apenas 15% desse valor em 2015.

E, ainda que a exploração do pré-sal tenha registrado alta no ano passado e o dinheiro resultante disso já esteja pingando na conta do Ministério da Educação (MEC), municípios brasileiros dizem ter tido suas expectativas frustradas, alegando que os recursos estão ficando com o ministério para suas despesas correntes e não estão chegando à ponta final da cadeia.

Os municípios se queixam também que, por conta da crise econômica, os repasses do MEC estão atrasados, dificultando investimentos no setor.

Para complicar, uma pendência judicial contribui para a incerteza quanto aos royalties: uma liminar do Supremo Tribunal Federal mantém em suspenso a distribuição dos recursos nos termos definidos pela lei de 2013.

A ação, que não tem data para ser analisada em caráter definitivo, foi solicitada pelo governo do Rio de Janeiro, Estado produtor de petróleo, que questiona a distribuição dos royalties para os Estados não-produtores.

Nesse cenário, como ficam as chances de o dinheiro da exploração do petróleo poder de fato mudar o panorama orçamentário da educação brasileira, como se esperava em 2013?

Levantamento de Paulo César Ribeiro Lima, consultor da Câmara dos Deputados para temas minerais e energéticos, calcula que, apesar de no início de 2015 o orçamento ter previsto R$ 6 bilhões vindos dos royalties e R$ 4,1 bilhões terem sido empenhados (ou seja, prometidos) pelo governo federal até setembro, apenas R$ 872,5 milhões dessa fonte foram efetivamente gastos pelo ministério.

Para Ribeiro Lima, a previsão orçamentária nasceu alta porque ainda tinha como base o preço do petróleo ainda no patamar mais elevado.

E os municípios brasileiros, que costumam arcar com grande parte dos gastos educacionais – nas escolas de ensino primário e fundamental -, se queixam de que seus custos aumentaram, sem que as receitas petrolíferas tenham chegado para socorrê-los.

"Os royalties foram anunciados como um recurso adicional, (...) mas não temos respostas sobre como eles serão distribuídos para Estados e municípios", diz Alessio Costa Lima, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais da Educação (Undime).

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