Certamente, algo muito sério está ocorrendo: Se somarmos 37% (que fizeram menos de 500 pontos) com 33% (que ficaram entre 501 e 600), teremos 70%! Significa dizer que cerca de quatro milhões de jovens, às vésperas de ingressarem no mercado de trabalho e/ou no ensino superior, mal conseguem resolver problemas simples, interpretar dados de manuais e compor um relatório corriqueiro! São, pois, reduzidas suas chances de autossuficiência profissional e ascensão social.
Que ninguém me diga que a causa de tudo é que os dois milhões de professores brasileiros são conservadores e adoram reprovar. Escolas que utilizavam métodos hoje tidos como antiquados cumpriram seu papel com eficiência no passado recente. Hoje em dia, há as que conscientemente adotam métodos conservadores e têm ótimos resultados. Não defendo o método A ou B. Minha experiência me ensinou que, bem utilizados, quaisquer deles dão bom resultado. É que a causa do problema não é metodológica — é política.
Por outro lado, constatar que, em 2016, uma das áreas que oferece mais vagas para o nível superior é Pedagogia assusta. A situação é crítica porque, mesmo tais vagas continuarão sem serem preenchidas, já que boa parte dos poucos que optam pelo curso não pretende trabalhar em educação, como demonstraram recentes pesquisas.
O mesmo ocorre nas licenciaturas. Afinal, quem quer ser professor hoje, quando o primeiro grande desafio é conseguir fazer os alunos compreenderem que se qualificar é diferencial para a vida deles próprios? E que, embora seja direito assegurado por lei, vale lembrar que todo direito remete a dever correspondente. O docente precisa dar aulas motivadoras e usar metodologia adequada, sim; mas o aluno tem que entender que é ele o maior interessado em progredir. E progredir demanda se dedicar e ser disciplinado. O que impera em nosso meio, porém, é a ideia de que é mister fazer com que, nas aulas, estudantes se sintam tal e qual estivessem na web ou nos joguinhos eletrônicos!
Enquanto especialistas discutem o problema do celular e assemelhados em aula, a realidade é que ainda temos 112 municípios sem uma só biblioteca pública! E como tornar a aula uma festa, se, em salas lotadas e sem infraestrutura, docentes mal conseguem se fazer ouvir, tal o nível de indisciplina? Devolvam o poder aos gestores escolares e aos docentes, que, a seguir, muito se poderá solucionar.
Tania Zagury
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