sábado, 30 de janeiro de 2016

Os últimos governos e o caos moral, político, econômico e social

O meu primeiro contato com as urnas se deu nas eleições presidenciais de 1960. Muito novo na época, era aceitável debitar-me aos arroubos da juventude o entusiasmo que externava pela candidatura de Jânio Quadros. Afinal, na idade de então, cursando a Faculdade de Direito de Minas Gerais, que já não permitia o velho e dedicado Samuel soar-lhe os sinos famosos porque o austero prédio que os abrigava havia sido demolido por um diretor insano, era pouco mais que um adolescente. E os moços tendem à generosidade, ao idealismo, à proteção dos mais fracos e dos oprimidos.

O edifício ainda inacabado transbordava de agitação que decerto lhe comprometia as estacas de sustentação. De um lado, apoiava-se o ex-governador de São Paulo com todos os seus trejeitos de político populista, despido de qualquer intenção séria com a nação que pleiteava governar, mas com o discurso farto do enganador empedernido, que se amparava nas eleições para desferir o golpe de Estado, de modo a legitimar-se com o governo autocrático que sonhava instalar.


Contou seu ex-chanceler Afonso Arinos, em almoço oferecido certa feita pelo governador Francelino Pereira, que o político mato-grossense, após um despacho no Planalto, foi até uma janela de vidro de onde se divisava o Congresso Nacional e disse-lhe: “Sr. chanceler, eis ao fundo a Casa do povo. Se este a invadisse, que faria a nação para defendê-la? O mesmo que os ingleses diante da invasão de Westminster?”. Nada mais se falou.

O deplorável nacionalismo ignorante foi propagado com os tiques de expressiva parte de seus companheiros de farda – que, na verdade, eram mais pelegos do que soldados das Forças Armadas. No meio de tudo, um matreiro PSD, que não tinha nenhuma dúvida da derrota do candidato Henrique Lott, e uma UDN sequiosa, que dizia acreditar na pregação em favor de um governo democrático forte, com as togas desligadas de um verdadeiro Estado de direito.

A onda cresceu, e Jânio levou a palma. A partir daí, a agitação tomou conta do país e dos desejos de desforra com os quais muitos queriam vingança desde os acontecimentos dos anos 20 e, mais tarde, da Revolução Constitucionalista e do golpe de 1937.

Esgotado o Estado Novo, veio a reconstitucionalização de um país que queria democracia, em confronto com a retórica nacional-populista dos restos getulistas. Tudo acabou nos governos discricionários dos anos 60, 70 e 80, que desembocaram na frustração causada pelas forças do destino e nos caprichos dos deuses.

Provavelmente, se a nação não tivesse sido golpeada pelos acontecimentos das vésperas da posse de Tancredo Neves e os fados ajudassem, o primeiro ato da Nova República seria a institucionalização do Estado democrático de direito, não como único passo, mas como o inicial de várias esferas sem as quais a democracia não floresce, a República não se agiganta e as instituições ficam sujeitas a mortíferas paralisias.

Em pouquíssimo tempo, interregnos se passaram, um ainda em andamento. Desses, o mais operoso foi o de Fernando Henrique Cardoso. Infelizmente, comprometeu-se com o segundo mandato, não se incluindo o primeiro, o melhor de todos. O de Sarney, ora, melhor seria não ter existido. Itamar Franco, apenas para completar, nunca seria eleito pelo povo. As duas outras candidaturas, Deus dos meus descendentes, nunca mais, seja piedoso conosco. A não ser que, de tantos pecados cometidos, não reste alternativa.

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