As perspectivas da economia brasileira são tenebrosas. A escalada da dívida pública indica uma irresponsabilidade administrativa sem precedentes. A crise é tão grave que vai implicar num retrocesso jamais visto neste país. Um ano já se passou, e nada – mas nada mesmo – foi feito para enfrentar a recessão. Ficou claro que o governo não se importa com o país. A única prioridade do PT é se manter indefinidamente no poder, como se isso fosse possível e aceitável.
Muitos oposicionistas perdem tempo em denunciar uma suposta comunização ou bolivarização do país, com base em teorias conspiratórias que beiram o ridículo, envolvendo o Foro de São Paulo e outras fantasias. A realidade, porém, é muito diferente.
Os dirigentes petistas são basicamente sindicalistas que nunca se submeteram a influências ideológicas. Quando chegaram ao poder, fizeram questão de marginalizar e expurgar os quadros de maior capacidade intelectual. O resultado, como se vê, foi catastrófico. Como diria Oswaldo Aranha, hoje o PT é um deserto de homens e ideias. A única obsessão de seus dirigentes é o sonho ensandecido de permanecerem no poder, sustentados por duas bases principais – de um lado, o aparelhamento da máquina estatal; de outro, os programas sociais que distribuem recursos públicos sem a menor fiscalização e produzem votos em profusão. Simples assim.
Contra a crise econômica e social, não há projeto algum, o governo do PT pouco se importa com o retrocesso que o país está vivendo, mas contra o impeachment houve a preocupação de montar um esquema praticamente infalível, dividido em diversos flancos:
1) através do aparelhamento do Supremo, tumultuar juridicamente o processo da Câmara, meta que está em curso vitoriosamente, levando o impeachment para as calendas, como se dizia antigamente;
2) usar Eduardo Cunha como fator diversionista, atribuindo-lhe a culpa por existir o processo de impeachment, para tirar do foco das discussões as pedaladas fiscais e os decretos ilegais;
3) contar com o apoio irrestrito do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para que mantenha o fogo cerrado sobre Cunha e trate com total leniência aliados corruptos como o senador Renan Calheiros;
4) através da repartição dos cargos do governo pelos partidos da base aliada, evitar que haja quorum na Câmara para condenação de Dilma, caso falhe o esquema montado no Supremo;
5) transformar Ciro Gomes num agente perturbador da política, para estabelecer o máximo de confusão e desviar as atenções que deveriam estar voltadas ao processo de impeachment.
6) comprar o apoio da grande imprensa, o que até está saindo barato, porque a mídia atravessa uma de suas piores crises e enfrenta graves problemas de solvência.
Tudo o que está escrito aqui é rigorosamente verdadeiro e do conhecimento de todos, só faltava a consolidação das partes para que se vislumbrasse a estratégia como um todo. E a conclusão é de que o esquema contra o impeachment realmente é de grande engenhosidade e parece ser a única iniciativa do governo que está funcionando à perfeição.
Neste esquema anti-impeachment, é claro, o Supremo desempenha um papel primordial. Para manter o foco em Eduardo Cunha, o Planalto recentemente vazou a informação de que o ministro Ricardo Lewandowski, como presidente do STF, teria sinalizado que não há elementos para afastar o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara.
Ligado diretamente ao Supremo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tem cumprido a missão com forte desempenho. Em 16 de dezembro, pediu ao STF o afastamento cautelar de Cunha, sob argumento de que o presidente da Câmara faz uso do cargo para atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato e as apurações do Conselho de Ética, que analisa o pedido de cassação de seu mandato.
Era uma jogada para as arquibancadas, porque Janot limitou-se a alinhavar acusações, sem apresentar provas consistentes. Com essas lacunas na denúncia, é óbvio que o Supremo então tem argumentos para manter Cunha na presidência da Câmara, agindo para que os holofotes da imprensa possam ser mantidos sobre o deputado, que funciona como uma espécie de anteparo para a presidente, ao atrair as atenções do noticiário.
Por fim, quanto à comunização ou bolivarização do governo e do PT, trata-se de denúncias destinadas a entrar para o folclore político. Os petistas não têm e jamais terão a mínima competência para conduzir um projeto de tamanha envergadura. Para eles, continuar no poder é o que basta.
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