Nas jornadas de 2013, quando milhares foram às ruas nas principais cidades do país, um slogan chamou a atenção: não são só os 20 centavos. Parodiando os jovens daquelas manifestações, diríamos que não são só os 10,67% da inflação de 2015, a maior dos últimos treze anos, que preocupam os brasileiros. Por detrás dos números frios está a possibilidade de retroagirmos ao pré-Plano Real; ao Brasil da combinação do binômio inflação-recessão, do desemprego em massa, da continuidade do imposto mais perverso e injusto, aquele que corrói o poder aquisitivo das camadas mais pobres da sociedade.
É sob este pano de fundo que será realizada a próxima reunião do Conselho de Política Monetária, quando o Banco Central deverá dar início a uma nova escalada da taxa básica de juros. Talvez seja o único remédio disponível na prateleira diante do descontrole inflacionário.
O melhor dos cenários aponta para uma inflação de 7% para 2016. Pode ficar nessa faixa um bom par de anos. A isso vem se chamando de limbo inflacionário. Dele o país não sai se não for resgatada a credibilidade da política econômica e dos compromissos com os fundamentos econômicos mandados para o vinagre nestes cinco anos de governo Dilma Rousseff.
No pior - a resiliência da inflação na casa de dois dígitos -, o Brasil de amanhã pode ser a Argentina dos tempos de Cristina Kirchner.
O receituário dos juros altos não será indolor, por mais que a equipe econômica tente dourar a pílula. Padece de seriedade a avaliação de setores do Banco Central de que, pelo fato de a economia estar em anemia profunda, uma nova rodada de elevação da Taxa Selic não terá impacto no emprego e no consumo.
Mas como retomar a credibilidade da política econômica? Apenas elevar os juros produz os resultados desejados?
Se não vier acompanhada de reformas estruturais – previdência, trabalhista, entre outras –, se não houver uma política voltada para a redução da relação dívida pública/PIB, a elevação será novamente inócua. Para utilizar uma frase antiga da própria presidente Dilma, o Banco Central estará enxugando gelo.
Sem limites, a presidente namorou com o perigo. Ignorou todos os alertas de economistas, de analistas e jornalistas especializados, do próprio mercado. Apostou, irresponsavelmente, no expansionismo fiscal. Agora, quando o monstro exibe sua face tétrica, Dilma descobre que é preciso fazer alguma coisa, antes que ele a devore.
Mas, prisioneira das contradições internas do lulopetismo, se vê diante de sua “Escolha de Sofia”. Tem de optar entre a utopia regressiva das bases, que querem o retorno da “nova matriz econômica” e aquilo que os investidores exigem para voltar a crer no Brasil: responsabilidade fiscal, compromisso com superávit primário, meta inflacionária, entre outros fundamentos.
A presidente tenta se equilibrar na corda bamba, como se pudesse servir aos dois senhores: o Deus Mercado e o Deus Corporações. De um lado, acena com a alta de juros e, de outro, amasia-se com novas medidas heterodoxas, como usar as reservas cambiais do Brasil para estimular artificialmente a retomada do crescimento.
Neste mar de instabilidade, não há política anti-inflacionária que resista. O problema é maior e mais grave do que os 10,67% da inflação do ano passado. Divorciada dos interesses do Brasil, Dilma personaliza os maiores entraves: a falta de credibilidade, previsibilidade e respeitabilidade da política econômica.
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