quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A crise está com aqueles que violam a lei, não com quem a respeita

A política brasileira está cheia de coelhos do Bambi que gritam desarvorados: “Fogo, fogo na floresta”. Aliás, não só na política. Na imprensa também, especialmente no colunismo.

Alguns lobos velhos da imprensa, desdentados de tanto rancor, veem golpe até na própria sombra. É alguém ameaçar Dilma e o Planalto com a lei, com a Constituição, com as instituições, e eles tossem suas ignomínias: “Golpe… Cof, cof, cof… Golpe!”.

Alguns estão mais para vampiros com sede de sangue. Sangue do povo nas ruas.


E, no entanto, não há golpe nenhum. Aliás, precisamos é de autoridades que ponham a bola no chão para dar continuidade ao jogo, não de irresponsáveis que veem crise institucional onde há exercício da legalidade.

Michel Temer, vice-presidente, veio a público e deu a seguinte declaração:

“A Câmara dos Deputados tomou uma deliberação ontem no exercício legítimo da sua competência. E posteriormente, em face de medida judicial, o Supremo suspendeu temporariamente e preliminarmente esta medida, para o exame posterior pelo plenário. Isso revela exatamente que nós vivemos num regime de normalidade democrática extraordinária. As instituições estão funcionando, e nós devemos preservar aquilo que as instituições estão fazendo e revelar, com isto, a democracia plena do país”.

Eis aí. Entre outras coisas, é disto que o país precisa: de alguém que seja capaz de fazer baixar as tensões em vez de elevá-las.

Não faltará quem sustente que a fala de Temer não diz nada. Diz, sim! A Câmara tomou uma decisão legítima, ao contrário do que gritam os petistas. E o STF concedeu uma liminar contra a forma de votação, também no exercício de sua competência — que será ou não referendada pelo pleno. Fim da papo.

Onde está a crise?

Não está no exercício legítimo das atribuições da Câmara.

Não está no exercício legítimo das atribuições do Supremo.

A crise está na economia, com a inflação furando a estratosfera dos 10%. A crise é política: o Planalto não dispõe de interlocutores competentes e não entende o exercício da democracia — além, claro, de ver alguns de seus protagonistas no mar de lama.

A crise está com aqueles que pretendem apelar a manobras espúrias para suspender o recesso.

Também a imprensa precisa começar a distinguir a crise da solução.

Reinaldo Azevedo

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