quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

'O governo demorou 8 meses para agir'

Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arbovirose, acredita que o Governo errou ao não agir antes contra o vírus da zika. A doença, transmitida pelo Aedes aegypti, mesmo vetor de quatro tipos de de dengue e da chikungunya, tem relação com o aumento dos casos de microcefalia no Brasil, segundo o Ministério da Saúde: já foram 1.761 neste ano -no ano passado, 147 bebês nasceram com o problema.
Ele afirma que o Governo já devia ter desenvolvido um exame capaz de detectar a infecção em larga escala, como existe para a dengue e que, sem isso, não é possível nem saber qual a taxa de grávidas que contraiu zika e desenvolveu a microcefalia. "A situação é dramática", afirma ele.

Não há, de fato, dúvidas, de que os casos de microcefalia são causados por zika?

Não há a menor dúvida. Só não posso dizer ainda qual a real dimensão desse problema, mas o que nós temos visto e discutido com vários colegas de todo o Brasil é que a situação é dramática.

O que leva a tanta certeza, já que não há casos no resto do mundo?


Em 1952 saiu já um trabalho, em fetos de camundongos fêmeas, que mostrava que o zika tinha uma afinidade pelo tecido neurológico desses ratinhos. Deixou-se essa informação armazenada e publicada na literatura médica, mas não se deu grande relevância porque não havia casos humanos. Esses casos humanos começaram a ser descritos em 2006 e 2007, em epidemias esporádicas nas regiões da floresta de Zika, na Uganda, onde o vírus havia sido descoberto na década de 1940. Em 2009, houve uma epidemia bem maior na Polinésia Francesa. Aqui no Brasil, no ano passado a gente já suspeitava que o vírus estava circulando, mas foi somente em abril deste ano que confirmaram 16 casos: oito em Natal e oito em Recife. Em agosto, colegas de Pernambuco começaram a notar o crescimento absurdo de casos de microcefalia. Eram dois, três casos diários. Ao mesmo tempo, um outro médico de Salvador começou a ver um número excessivo de casos de uma síndrome neurológica chamada Guillain-Barré.

Logo se supõe que pudesse ser o zika porque em um grande percentual dessas crianças que nasceram com microcefalia, as mães apresentaram no início da gravidez uma doença que parece dengue: dores no corpo, dores de cabeça, manchas no corpo e faziam o exame de dengue, dava negativo, faziam o exame de chikungunya, dava negativo, e aí os dois com muita perspicácia pensaram: há mais vírus que o mosquito transmite, que é o zika. Já há dois casos de mulheres, de duas grávidas, com fetos com microcefalia cuja pesquisa do líquido amniótico deu positivo para zika. Há pesquisas já de positivo para vírus em pessoas com Guillain-Barré, e acho muito importante de salientar é que na Polinésia, nessa epidemia de 2009, teve um aumento nos casos de microcefalia, mas eles não tinham relatado porque não tinham feito a associação.

Leia mais a entrevista de Artur Timerman

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