Infelizmente, o Brasil de 2015 apresenta desafios que ainda não foram compreendidos nem pelo mundo político nem pelo governo. E o déficit de entendimento só agrava a situação. Corremos sério risco de virar uma Argentina se não fizermos o dever de casa que se impõe. Poucos se deram conta de que o país pode entrar em uma crise muito pior do que a que estamos vivendo.
No campo político, a irresponsabilidade tem sido total. O mundo se orienta pela agenda de cada um. Apoio ou resistência ao ajuste fiscal são ditados pela eficiência do governo em jogar – ou não – o jogo do fisiologismo. A criação de pautas-bomba no Congresso foi impatriótica, para se dizer o mínimo. A incompetência do governo em explicar a gravidade da situação fiscal foi absurda. A complacência do governo com a perda do investment grade foi igualmente impatriótica. Em tempos de guerra, governo e Congresso teriam de responder às cortes marciais.
Consta que a DRU não tem o relator escolhido na Câmara por conta de uma disputa por um cargo no Ministério das Cidades. Será? Será que o egoísmo e a incompetência chegam a tanto? No Brasil, tudo é possível. O Poder Executivo, que sempre liderou o processo institucionalmente, está combalido e paralisado pela incapacidade de fazer o presidencialismo de coalizão funcionar. Não conseguiu construir uma base política confiável que dê respaldo à sua agenda. Nem uma narrativa que justifique os esforços necessários. Gasta seu tempo contando os votos para uma possível abertura de impeachment ao invés de governar.
Tal situação indica impasse no caminho do ajuste fiscal. Vai ter que piorar para começar a melhorar. Quanto pior? Eis a questão. Pior muito ou pior pouco? Considerando a natureza humana e a qualidade dos que comandam os destinos do país, deve ter que piorar muito. São desafios demais para pouca competência: salvar o PT, o governo, os políticos e as contas públicas. Muita areia para pouco caminhão.
Nos próximos meses o governo terá uma sequência de embates capitais para o futuro da credibilidade fiscal do país. Muitos dependem do Congresso. A saber: mudança da meta fiscal para 2015; acerto das “pedaladas” de 2015 com o TCU via pagamento ao BNDES; aprovação do Orçamento de 2016; manutenção dos vetos das pautas-bomba. Sem falar na DRU e na CPMF.
Considerando o horizonte de desafios e a armada de Brancaleone que se transformou o governo, a chance de tudo dar errado é muito, muito grande. Como existem coisas que só acontecem no Brasil e no meu Botafogo, torçamos para que o deus avulso de Machado de Assis nos socorra e nos salve do pior.
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